Quando a música abre a porta do coração já não importa se o tempo não corre em ritmo de bonança, se o choro que oprimia ainda faz soluçar, se o azul que cobria o céu perdeu cor ou se a tormenta anunciada vai regressar. Os sons trazem os afectos que transcendem e retiram da porosidade dos dias a harmonia do sonho que deve temperar a vida.
Pobre Velha Música!
Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro", Bertrand Livreiros
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro", Bertrand Livreiros
A soprano Susanna Rigacci , Gilda Buttá ao piano , o Coro da Rádio da Baviera e a Orquestra da Rádio de Munique sob a direccção de Ennio Morricone em "The Ecstasy of Gold"*, uma obra prima criada pelo génio de Morricone, que pode temperar de sonho este Domingo de Maio.
*Esta música faz parte da banda sonora do filme "The Good, the Bad and the Ugly" composta por Ennio Morricone em 1966, tendo como principais artistas Clint Eastwood , Lee van Cleef, Eli Wallach e como realizador Sergio Leone.
Morricone surpreende com a sua própria criação. Recria-a em novas interpretações e esta é excepcional. O céu fica a um passo, quando a voz de Susanna Rigacci soa, intercalada com o som das vozes apoteóticas de um coro bem regido.
ResponderEliminar...Uma música que nos traz emoção, no eleva!... No entanto, para além de Morricone não queremos deixar de assinalar estes quatro versos de Fernando Pessoa, que são um verdadeiro compêndio do vivido com amargura e sonho, com saudade e um mistura de desejo: " Com que ânsia tão raiva / Quero aquele outrora! / E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora." - Que magnífica interiorização do passado no presente, sendo o presente já passado!... Os momentos de felicidade só o são porque são vividos no momento em que o são, em que os consciencializamos!
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