"Montanhas longe alagadas de rosa pálido. O sol já se pôs aqui, as árvores estão mais escuras, os prédios indecisos parece que vão cair. Em baixo passa uma menina de branco, chapéu e vestido brancos, numa bicicleta. Um chapéu de abas largas. Ali mais para a esquerda os montes estão azuis. Uma tristeza enorme me torna prisioneira solitária de uma ilha e mesmo assim sinto-me senhora do mundo. A minha janela é alta e a beleza deste morrer do dia tamanha. Já a menina deslizou e sumiu-se como uma flor pelo asfalto cinzento a rolar. E eu fui assim como uma gota que de mim inteira resvalasse."
Matilde Rosa Araújo, Páginas de Diário, in “Árvore - folhas de poesia - 1º fascículo, Outono de 1951”
Lucidez desnecessária
Diante das estrelas
E do sol
Sabendo a morte
E a vida aranha
Disconforme
E concordante
Pronta a parar na teia
Envelheci
Mas posso olhar ainda
Ainda
Cravos de sangue e rosas da estrada
Como se eterna fosse
Mas tão tarde.
Matilde Rosa Araújo,in “Voz Nua”, livros Horizonte, 1986
Lucidez desnecessária
Diante das estrelas
E do sol
Sabendo a morte
E a vida aranha
Disconforme
E concordante
Pronta a parar na teia
Envelheci
Mas posso olhar ainda
Ainda
Cravos de sangue e rosas da estrada
Como se eterna fosse
Mas tão tarde.
Matilde Rosa Araújo,in “Voz Nua”, livros Horizonte, 1986
Pierre-Auguste Renoir, "No Terraço", 1881... Em pleno Impressionismo!... Renoir, a pintura, a mesma procurada e distinta paixão!... Olho e retenho a reprodução deste quadro do pintor /(Renoir). Olhem, por favor, o encanto, a admirável noção que nos transmite a bonomia e a simplicidade destes rostos, associada a uma certa puerilidade, candidez, desejo assumido e firme, metamorfoseado em inocência, talvez não a a inocência em que possamos pensar e que nos surgirá à primeira vista... São mulheres, uma jovem mulher e uma criança, que posam para o pintor, já atacado de gota reumática, mãos dolorosas e torcidas, articulações deformadas e cgeias de tofos, mãos que sustentam os pincéis e parece não desistirem de pintar... E estamos em 8 de Março de 2012, Dia Internacional da Mulher. E por aqui me fico, lendo com emoção o texto e o poema da Matilde(Rosa Araújo), minha tão extremosa amiga, meu apoio em tantas horas, mulher de quem já aqui falei (leia-se, escrevi) em "Livres Pensantes". E quero pensar. E ainda. Como a Matilde gostaria de continuar connosco, associada nesta luta interminável pela dignidade e pela independência da Mulher!...
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