quarta-feira, 7 de março de 2012

Madrigal escrito no Inverno


No fundo do mar profundo
na noite de longas riscas,
como um cavalo atravessa correndo
o teu calado nome.


Dá-me lugar no teu ombro, ai, abriga-me,
aparece-me no teu espelho, de repente,
brotando do escuro, detrás de ti.


Flor da doce luz completa,
acode-me com tua boca de beijos,
violenta de separações,
determinada e fina boca.


Pois digo-te, no mais longe dos longes,
de um esquecimento a outro moram comigo
os carris, o grito da chuva:
o que a escura noite preserva.


Acolhe-me no tear da tarde,
quando o anoitecer vai urdindo
o seu vestiário e palpita no céu
uma estrela cheia de vento.

Traze-me a tua ausência até ao fundo,
pesadamente, com os olhos tapados,
atravessa-me a tua existência, admitindo
que este meu coração está destruído.

Pablo Neruda, in " Residência na terra ", Antologia Breve, ( Cadernos de Poesia), Publicações  Dom Quixote, Fevereiro 1969

1 comentário:

  1. Pablo Neruda, "Pablito" para os íntimos, os da sua "rua", para os da sua geração, ficou inscrito como um Poeta para toda a Terra, um poeta universal, na só pela poesia, como pela luta política que travou. É que Neruda foi através da diplomacia e não só, também pela sua errância em virtude do exílio, um viajante incorrigível e audacioso. E ainda bem que assim foi, pois através da sua obra literária e jornalística, principalmente a que deixou em prosa, nos deu a conhecer muito mundo, muitos "mundos" por esse mundo fora. Pablo Neruda (pseudónimo), um poeta para toda a Terra, quando a Terra inteira nunca lhe chegou, nunca lhe encheu completamente a alma!...

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