sábado, 3 de março de 2012

Nunca choraremos bastante


Pranto pelo dia de Hoje


Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in " Grades" , Cadernos de Poesia, Publicações Dom Quixote, Novembro de 1970

A situação na Síria é "inaceitável e intolerável", e as autoridades em Damasco "devem permitir, sem impor condições", a chegada de ajuda humanitária ao bairro de Baba Amr, na cidade de Homs, afirmou nesta sexta-feira o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. "A comunidade internacional deve encontrar unidade urgentemente para pressionar as autoridades sírias e todas as outras partes para que detenham a violência", declarou Ban. "A contínua divisão da comunidade internacional encorajou as autoridades sírias em seu violento beco sem saída".
A escalada repressiva contra os grupos de oposição e os civis causou, lembrou Ban, mais de 7,5 mil mortes na Síria no quase um ano que duram os protestos. Rússia e China já vetaram duas vezes um projecto de resolução que condenaria o regime de Bashar al-Assad, enquanto a Assembleia Geral e o Conselho de Direitos Humanos já manifestaram repúdio à repressão de Damasco contra a oposição e os manifestantes.
Ban Ki-moon encorajou todos os países a pressionarem o governo sírio a permitir o acesso de activistas humanitários e da subsecretária-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, o que definiu como "o primeiro passo rumo a uma solução pacífica da crise". "Temos de fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para deter a crise. É preciso contribuir para o início de um processo de transição liderado pelos sírios e destinado a obter um sistema político democrático e plural", ressaltou Ban.
"Peço que acabem imediatamente com a violência e que autorizem o acesso humanitário. Esta é nossa prioridade número um no momento." A ONU, explicou Ban, segue esforçando-se para organizar uma visita "o mais cedo possível" à Síria para que sua responsável por operações humanitárias, Valerie Amos, avalie a situação. "Para que possamos fornecer ajuda a muita gente, creio que Valerie Amos deve poder visitar a Síria primeiro, isto é o mais urgente", declarou Ban.
Na manhã desta sexta, sete caminhões do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e do Crescente Vermelho Sírio (CVAS) chegaram a Homs com alimentos, medicamentos, cobertores e leite infantil, mas o comboio não conseguiu entrar no bairro de Baba Amr, em Homs. Segundo o presidente da CICV, Jakob Kellenberger, o comboio ficará durante a noite em Homs na esperança de entrar em breve em Baba Amr. A caravana da Cruz Vermelha com a ajuda humanitária foi impedida de entrar no bairro sírio de Bab al-Amr, bastião dos opositores ao regime de Bashar al-Assad e o mais fustigado pelos bombardeamentos do último mês.
O Exército abriu fogo contra milhares de pessoas reunidas nas ruas da Síria nesta sexta-feira, em manifestações convocadas pela oposição para exigir que o Exército Livre Sírio (ESL) receba armas do exterior, após a queda do reduto rebelde em Baba Amr. Fonte : Terra Brasil e Público

1 comentário:

  1. Assim como os regimes democráticos caem, igual acontece com as ditaduras. O actual regime ditatorial Sírio não resistirá muito, mas até lá as cargas sobre o povo irão provocar muito mais vítimas, derramar muito mais sangue, infelizmente. Sofia de Mello Breyner Andersen. mulher combativa durante a ditadura do Estado Novo e poetisa notável e excepcionalmente sensível, escreveu "Pranto pelo Dia de Hoje", num outro contexto político e social, referindo-se ao seu país, mas as suas palavras escritas há mais de 40 anos adequam-se perfeitamente à situação dramática vivida pelo povo Sírio nesta hora.

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