quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Os mares do mundo na Literatura

Quem é do Mar não enjoa
"Seja como pano de fundo, inspiração ou até mesmo personagem, os mares do mundo já rechearam muitas obras ao longo dos séculos. São raros, no entanto, os livros que se debruçaram realmente sobre os oceanos em geral. Estes, quando existem, estão restritos aos cursos de oceanografia e são quase que impalatáveis. Algo que os divulgadores da ciência bem que poderiam resolver.
Ao relembrar a adolescência, não há como esquecer "Moby Dick e 20 mil léguas submarinas". O primeiro, escrito por Herman Melville em 1851, é uma aventura espectacular que, nos dias de hoje, pode até ajudar a entender por que as baleias estão desaparecendo dos mares. Como eu queria, de verdade, ter navegado uma única vez no Pequod, mas talvez sem a companhia do capitão Ahab.
A obra de Júlio Verne, também de meados do século XIX, é talvez uma aventura ainda mais cheia de simbolismo do que a caça às baleias. Dentro do Nautilus, o capitão Nemo busca criar uma "sociedade" totalmente independente do mundo. Vivendo  e sendo sustentada apenas pelo mar.
Mas, depois, quando se cresce, o mar passa a ser uma realidade e se quer realmente viver as aventuras nele, de verdade. Nesse caso, o ideal é embarcar na travessia feita pelo explorador Amyr Klink entre a África e o Brasil. "Em Cem dias entre céu e mar", o leitor entende muito bem o que é o ser humano e o que é o oceano
Outras duas viagens épicas, em momentos e situações diferentes, foram feitas por Charles Darwin e por Robert Scott. O primeiro atravessou o mundo a bordo do Beagle. E, depois, deixou para a humanidade a tal teoria da evolução. Foram quase cinco anos de viagem, e todas as anotações do diário de bordo foram usadas como base para o livro "Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle", escrito por Richard Keynes, bisneto de Darwin.
O segundo, ao sair do Reino Unido rumo à Antártida, iniciaria uma corrida sensacional, e absolutamente trágica, pela conquista do pólo Sul. Ele perdeu, e feio, para o norueguês Road Amundsen. O melhor livro sobre isso é "O último lugar da terra" - a competição entre Scott e Amundsen pela conquista do pólo Sul, de Roland Huntford.
Vamos fincar os pés na terra, e por vários motivos. A importância do mar na vida real das pessoas, e de um país com um litoral enorme como o Brasil, apesar de muitas vezes ignorada, também já mereceu a atenção dos escritores e dos estudiosos.
É o caso de "Mar morto", de Jorge Amado. E também da incrível Enciclopédia caiçara, do professor Antônio Carlos Diegues, da Universidade de São Paulo - um dos poucos antropólogos que optou por não estudar os índios. A obra, em cinco volumes, foca principalmente os povos caiçaras do Sudeste do Brasil. Estão lá seus problemas para sobreviver a partir do mar, suas festas e suas tradições. Alguns locais do litoral norte paulista, por exemplo, já foram bem diferentes antes da especulação imobiliária instalar-se por lá.
Fora do Brasil, mas também verídica, é a história contada por Gabriel García Márquez em "Relato de um náufrago". Ela é interessante, além de se passar no mar, por vários motivos. A partir de um simples naufrágio, o jornalista Gabo descobriu uma trama que ligava políticos da Colômbia ao contrabando. Para ficar na linha dos ganhadores do Nobel de Literatura, outra relação delicada e intrigante entre o ser humano e o mar está nas páginas de "O velho e o mar", de Ernest Hemingway.
O último da lista é, claro, o clássico de Camões baseado no mar português, que também inspirou Fernando Pessoa e tantos outros. Melhor do que escrever sobre "Os Lusíadas", é trazer um trecho dele para esse texto: "Já no largo oceano navegavam, / As inquietas ondas apartando; / Os ventos brandamente respiravam, / Das naus as velas côncavas inchando; / Da branca escuma os mares se mostravam / Cobertos, onde as proas vão cortando / As marítimas águas consagradas, / Que do gado de Próteo são cortadas".

OS DEZ LIVROS

Moby Dick, de Herman Melville,
várias editoras
 20 mil léguas submarinas, de Júlio Verne, várias editoras
 Cem dias entre céu e mar, de Amyr Klink, Companhia das Letras
 Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle, de Richard Keynes, Jorge Zahar Editor
 O último lugar da terra, de Roland Huntford, Companhia das Letras
 Mar morto, de Jorge Amado, Record
 Enciclopédia caiçara, de Antônio Carlos Diegues, Hucitec e Anablume
 Relato de um náufrago, de Gabriel Garcia Márquez, Record
 O velho e o mar, de Ernest Hemingway, Bertrand Brasil
 Os lusíadas, de Luís de Camões, várias editoras
Eduardo Augusto Geraque in “Entrelivros”, Março de 2007

Eduardo Augusto Geraque É jornalista e biólogo. Mestre em oceanografia biológica pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, fez, na mesma universidade, doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam/USP), com especialização em jornalismo ambiental.

1 comentário:

  1. O mar é o "chão" da Terra. É inegável que muitos autores no mundo da literatura se lhe tenham referido de múltiplas formas, envolvendo-o ora como espaço de descoberta, de vida, de percurso, trilho de futuros; ora como profundidade de inúmeras tragédias, sepultura enorme de corpos e almas, onde coube o desejo, a ambição, a riqueza, a gula, o arrojo, tudo o que por vales e montes, lagoas e rios, não encontrou risos e lágrimas, amparo e destino. O Mar encontro e desencontro, simultaneamente...

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