quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A poesia também é Fado


Quando a poesia também é Fado, a força das palavras enleva-se em profundo cântico. O poema junta-se aos sons das guitarras e da viola para, na voz maior do fadista,   celebrar o Fado. Camané fá-lo com mestria e emoção  em "  Mais um Fado no Fado".




Mais um fado no fado

Eu sei que esperas por mim
Como sempre, como dantes
Nos braços da madrugada...
Eu sei que em nós não há fim,
Somos eternos amantes,
Que não amaram mais nada.

Eu sei que me querem bem,
Eu sei que há outros amores
Para bordar no meu peito.
Mas eu não vejo ninguém,
Porque não quero mais dores
Nem mais baton no meu leito.

Nem beijos que não são teus,
Nem perfumes duvidosos,
Nem carícias perturbantes,
E nem infernos nem céus,
Nem sol nos dias chuvosos,
Porque inda somos amantes.

Mas Deus quer mais sofrimento,
Quer mais rugas no meu rosto
E o meu corpo mais quebrado...
Mais requintado tormento,
Mais velhice, mais desgosto,
E mais um fado no fado.

Poema de Júlio de Sousa
Música de Carlos da Maia ( Fado Perseguição)  

1 comentário:

  1. O fado é a expressão - cantada - triste e dolorosa, passiva, a expressão por excelência para caracterizar o nosso conformismo, a nossa passividade, o deixar ir porque nos deixámos estar, porque nos deixámos talvez absorver pelo determinismo do "ir por aí"... nas margens do indefinível, do irrecuperável, do fatal irremediável. - V. P.

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