A Ecologia é aquela parte da ciência que estuda a relação entre os seres vivos e o meio em que vivem. A palavra “relação”, neste contexto, significa que os seres vivos dependem uns dos outros, assim como dependem do solo, do ar e da água.
Hoje fala-se muito de “ecologia” porque está em jogo o “futuro do mundo e do homem”. O avanço da ciência e da tecnologia foi realizado tendo como objectivo apenas um desenvolvimento económico, que procurou “transformar a natureza” multiplicando a produção de bens. A ciência e a tecnologia actuais chegaram a desumanizar o homem, privando-o da liberdade, do espírito de sociedade e de amizade; e a “destruir o mundo”, provocando a crise energética e o desequilíbrio ecológico. Assim, os valores do espírito não contam mais: a única preocupação é o bem-estar e o divertimento. A natureza é reduzida ao seu aspecto exactamente mensurável e dominável; há o fanatismo do trabalho e do lucro; avaliam-se as qualidades humanas de diligência, rapidez, capacidade de adaptação e serviço de produção. Desgastaram-se as relações humanas: nos sistemas tecnológicos, o homem torna-se uma máquina, reduzido a uma série de impulsos.
No final e início deste milénio, o avanço da ciência e da tecnologia regista um bom saldo positivo e, ao mesmo tempo, um tristíssimo saldo negativo. A título de exemplo, como não ficar admirados e gratos à ciência pelos avanços na medicina? Mas, ao mesmo tempo, como não ficar abismados com o balanço de duas guerras mundiais, de muitas outras guerras, das desigualdades socioeconômicas existentes entre o Norte e o Sul do mundo, da poluição atmosférica e hídrica, da destruição dos recursos não renováveis?
Quem sai perdendo em tudo isso é o homem, porque a exploração bárbara dos recursos indispensáveis e não renováveis caminha junto com a exploração do homem pelo homem. O homem industrial moderno supera o limite da tolerância da natureza e da subsistência humana.
Existe, antes e fora da “modernidade”, uma visão do mundo como algo de sagrado: podemos pensar, a título de exemplo, na visão bíblica judaico-cristã, ou na mesma tradição da qual foi gerado o culto afro-brasileiro do Candomblé. A Bíblia, desde suas primeiras páginas, apresenta-nos Deus que abençoa o homem, criado à sua imagem, confiando-lhe o jardim de Éden, “para o cultivar e guardar” (Gênesis 2,15). Ao mesmo tempo Deus dá este outro mandamento: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Génesis 1,28). Em outros termos, Deus não quer que o homem seja um espectador ocioso, nem um bárbaro explorador. O homem honra a Deus quando conserva a beleza do mundo e usa as forças da natureza para servir o próximo e adorar a Deus. Quando, porém, o mundo é apenas “usado”, acaba de ser um “jardim cultivado”; e o homem cessa de ser “imagem de Deus”, criador, fonte da vida, do amor e da beleza.
Na tradição africana, que deu origem ao Candomblé, a natureza é como que um “santuário” habitado por espíritos superiores, os orixás: Iemanjá é o orixá do mar, Xangô é o orixá do trovão etc. No fundo, as tradições religiosas manifestam como que uma “mística” da natureza que exige, diante dela, uma atitude de respeito, de preservação, de cultivo etc.
A experiência religiosa pode ajudar o homem de hoje, que questiona a modernidade, a recuperar uma visão “mística” da natureza, como pressuposto para se colocar diante do mundo com uma atitude de respeito e não de exploração. A ética, que se baseia, essencialmente, no respeito da pessoa humana, reclama hoje da tecnologia uma “conjugação” com a ecologia para que os seres humanos recuperem o direito de beber água limpa, de respirar ar puro, de se alimentar sem serem atingidos por venenos agrotóxicos, de gozar da “beleza do jardim” da natureza e de relacionamentos sadios.
Lino Rampazzo, in "BioéticaDireito
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