A violência tem sido foco de atenção concentrada nos últimos tempos. O homem contemporâneo assiste a cenas diárias de seu recrudescimento em todos os lugares e sob as mais variadas formas.
Nota-se que toda essa violência crescente se tem tornado assustadora e paira uma sensação de impotência diante dela.
Nos tempos actuais, a todo o momento, volta a preocupação de se pensar na (re)construção da dignidade humana desgastada, ou seja, de se resgatar muitas das conquistas de humanização que, em princípio, pareciam já consolidadas, mas que a violência banalizada tende a fazer desmoronar. Hannah Arendt elaborou uma das mais expressivas reflexões sobre esse fenómeno da violência que se difunde indiscriminadamente e se banaliza. Assim ela escreveu:
- (...) o perigo da violência, mesmo que esta se movimente dentro de uma estrutura não extremista de objetivos a curto prazo, será sempre que os meios poderão dominar os fins. (...). A acção é irreversível, e um retorno ao ” status quo” em caso de derrota é sempre pouco provável. A prática da violência como toda a acção, transforma o mundo, mas a transformação mais provável é num mundo mais violento. (1985, p.45, ( (ARENDT, Hannah. Da violência. Brasília: Universidade de Brasília)
É notória a escalada da violência. O quotidiano está permeado de cenas reais dessa violência, a qual vai assumindo proporções “espantosas”, mas que, para assombro, já não causa tanto espanto. Trata-se de uma violência que se alastra e se banaliza. A banalização dá-se na medida em que já não tem mais face e nem limites. Mostra-se capaz de atingir extremos quase inimagináveis e de ser praticada por todos aqueles que, apesar de humanos, de algum modo, são refractários à ideia de agirem como pessoas em relação aos semelhantes.
Essa violência banalizada, directa ou indirectamente, afecta sobremaneira a dignidade humana, entendida esta como um valor exponencial. Isso porque ela traz, no mínimo, a sensação de paralisação ou de retrocesso no aprimoramento do especial modo gregário de viver do ser humano. Marca desse mal-estar é a tendência para a não-pessoalização ou para a despessoalização das relações intersubjectivas.
Surge, assim, para a Bioética, enquanto uma ética que postula respeito pela vida, o desafio de salvaguardar o valor da dignidade humana, o que implica, por conseguinte, preservar a própria pessoa em si. Isso torna-se crucial quando se pretende evitar que haja a corrosão completa daquele valor, por causa da violência que se escancara banalizadamente. Trata-se mesmo de um desafio à Bioética, posto que ela é chamada a orientar o “ethos” do coexistir humano, cuja base há de ser a busca pelo mais profundo respeito de um pelo outro, o que se firmará no renovado esforço e no constante reforço de pessoalização das relações humanas.
Marcius Tadeu Maciel Nahur, In “BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA E BIOÉTICA: O DESAFIO DA (RE)CONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA”
gostei muito
ResponderEliminarMais uma análise muito lúcida e pertinente sobre a violência. Por mim aproveito para acrescentar que, infelizmente, nos últimos tempos temos assistido através dos "media" à constante divulgação de actos de violência e também não é de escamotear a violência de muitos dos filmes de desenhoa animados. Aliás muitos jovens assumem atitudes de violência na sequência do que vêem nesses filmes.
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