terça-feira, 6 de abril de 2010

Tejo Que Levas As Águas


Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas

Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas
casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais

Afoga empenhos favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas

Leva nas águas as grades
...

Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo

Tejo que levas nas águas

Adriano Correia de Oliveira (Avintes, 9 de Abril de 1942 — Avintes, 16 de Outubro de 1982) foi um dos maiores trovadores portugueses do Sec. XX. Lutou tenazmente pela liberdade e a sua voz melódica e peculiar denunciou , com coragem, a opressão exercida no tempo da ditadura em Portugal.
Infelizmente, as palavras deste "Tejo que Levas as Águas" encaixam na realidade actual. Que infortúnio o nosso e quão frágil é a memória dos homens. Preservar a pluralidade em liberdade deve ser sempre e primodialmente um ideário permanente de todos os Homens.
Em memória de Adriano Correia de Oliveira, neste Abril de 2010, fica esta excelente canção que pertence ao Album “Que Nunca Mais” com textos de Manuel da Fonseca, arranjos e direcção musical de Fausto.

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