Eugénio Lisboa, Universidade de Aveiro |
AUTOBIOGRAFIA
Uma vida escreve-se devagar,
embora se viva muito depressa:
mal se partiu, já se está a chegar,
mesmo que, no meio, muito aconteça!
Escrevê-la é moroso e complicado:
a memória guarda mas também esquece
e, se parte fica resguardado,
o resto, ingloriamente, fenece!
Escreve-se a vida, pra vencer a morte,
para dar à vida uma outra vida,
fechando-a, enfim, num cofre forte.
No cofre guardada e não esquecida,
pensa quem escreve, mal sabendo
quanto tudo o tempo vai roendo!
08.12.2022
Uma vida escreve-se devagar,
embora se viva muito depressa:
mal se partiu, já se está a chegar,
mesmo que, no meio, muito aconteça!
Escrevê-la é moroso e complicado:
a memória guarda mas também esquece
e, se parte fica resguardado,
o resto, ingloriamente, fenece!
Escreve-se a vida, pra vencer a morte,
para dar à vida uma outra vida,
fechando-a, enfim, num cofre forte.
No cofre guardada e não esquecida,
pensa quem escreve, mal sabendo
quanto tudo o tempo vai roendo!
08.12.2022
Eugénio Lisboa , in Soneto modo de usar , Editora Guerra & Paz, Abril de 2024, p. 105.
Este soneto glosa a finitude da vida num profundo olhar retrospectivo para dar vida a uma outra vida e vencer a morte. O poeta deu-lhe o título de autobiografia remetendo-nos para uma longa vida que se escreve devagar.
Eugénio Lisboa, o autor , viveu 93 anos . No cofre onde se guarda a vida, ficou uma extensa produção literária que faz dele um dos maiores escritores deste século. Faleceu a 9 de Abril deste ano. Era, também, um ser excepcional, enquanto pessoa . Praticava a simplicidade e o trato cordial com quem o abordava . A Cultura era nele o saber acolher e repartir com o outro. Eugénio Lisboa pertencia ao círculo de pessoas que Paul Valéry define como: Os homens verdadeiramente grandes estão muito próximos dos outros pela mesma simplicidade que os afasta até ao infinito. Porque os homens verdadeiramente grandes conservam, na sua relação com as coisas profundas e difíceis com as quais estabelecem sua intimidade, as mesmas atitudes que têm com toda a gente; são ao mesmo tempo familiares, delicados e verdadeiros.
Soneto - modo de usar foi o último livro publicado no mês em que faleceu. Tem ainda uma extensa obra para publicar que engrandecerá a Literatura . Aguardemo-la.
A par de uma escrita diária , Eugénio Lisboa era um amante de Música. Tinha um valioso acervo musical. Mozart era o génio que sempre o deleitou.
Na saudade que nos traz o seu desaparecimento , brindamos Eugénio Lisboa com uma peça mozartiana, conduzida por um grande maestro.
Symphony Nr. 25 g-moll KV183, de Wolfgang Amadeus Mozart interpretada pela Wiener Philharmoniker, regida pelo Maestro Leonard Bernstein.
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