Eugénio Lisboa teceu, ao longo da vida, uma magnífica obra, que se distribui por uma variedade de temas e formas. Um homem extraordinariamente culto que sabia combinar, com argúcia, o saber, a erudição com um invulgar sentido de humor, traduzido em sedutora escrita.
Relembramo-lo com um poema do seu último livro publicado e com uma entrada (ainda inédita) do seu Diário ( Aperto Libro) .
UM LIVRO
Um livro é assim como um filho,
que lançamos, indefeso, às feras.
Tentámos, com amor, dar-lhe brilho
e, às vezes, elegância de pantera.
Tivemos insónias e também dores,
faltámos a deveres e encontros,
sempre em favor daqueles fervores,
que se alimentam de desencontros.
Um livro constrói-se com emoção,
mas também com cálculo e razão.
Junte-se a isso, enorme esforço,
de que a alegria é um reforço.
É filho com que nos preocupamos
e de quem, por vezes, nos orgulhamos.
26.08.2022
Eugénio Lisboa, in soneto, modo de usar, Editora Guerra & Paz, Abril de 2024,p.46
.
S. Pedro, 18.09.2014
"(…) Os poetas: uma noite, em casa do
poeta americano Robert Frost, depois do jantar, o escritor e uma jovem vieram
postar-se à porta de casa. A jovem exclamou: “Ó Sr. Frost, não está um lindo
pôr-de-sol?” Frost respondeu: “Nunca falo de negócios, depois do jantar.”
Quando me cumprimentam, por ainda estar
tão alerta, apesar dos meus mais de oitenta anos, lembro-me de Robert Frost
que, numa viagem de comboio, ouviu este cumprimento, de alguém que ia na mesma
viagem: “Felicitações pela sua longevidade!”
O poeta respondeu secamente: “Vá para o inferno com a minha longevidade.
Leia mas é os meus livros!”.
Convido
os meus ainda não leitores a fazer o mesmo: os meus livros são muito mais
interessantes do que a minha longevidade."
Eugénio LIsboa
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