por Eugénio Lisboa
“O resultado destas eleições evidencia, sobretudo,
uma dramática subida do CHEGA e, pior ainda, uma tendência a continuar a subir.
A tão universalmente gabada queda da abstenção, infelizmente, quer dizer que os
habituais abstencionistas que, desta vez, levantaram o rabinho do sofá, para
irem votar, foi para irem votar no CHEGA. Havia, é claro desilusão e
ressentimento, devido ao estado do país, mas isso, só por si, não explica tudo.
A maioria das pessoas gosta de milagres e, milagres, foi o que Ventura,
despudoradamente, lhes prometeu. As pessoas mais qualificadas da nossa
sociedade, Professores universitários, juízes, médicos, altas patente do
exército, por maior cultura profissional e geral que possuam, gostam de
acreditar em milagres que, de repente, os tornem ricos e famosos. Viu-se isso,
de forma calamitosa, com a “banqueira do povo”, D. Branca. Quando eu soube do
que se estava a passar, fiz logo o diagnóstico, porque me lembrava de casos
acontecidos, na minha vida empresarial, em que alguns gerentes de instalações
da minha empresa foram despedidos por fazerem o que se chama “rolling the
cash”. Era o que fazia a D. Branca e o que fez o americano Madoff. Mas os mais altamente qualificados cidadãos deste país precipitaram-se
a depositar as suas poupanças nas mãos daquela “miracle worker” (fazedora de
milagres). Muitos ficaram sem nada, quando a suspeita levou a uma corrida geral
aos levantamentos. Fui altamente repreendido, ao não aderir àquela loucura, por
pessoas que alegavam que senhores Professores universitários não tinham
hesitado em pôr o seu dinheiro nas mãos da banqueira. Respondi-lhes
sucintamente que, universitários ou não, esses senhores não sabiam fazer
contas. André Ventura é a D. Branca da política portuguesa: oferece milagres a
quem gosta de milagres e quem gosta de milagres é muita gente. O problema é que
esses milagres não estão disponíveis.
Por outro lado, esta iliteracia política de muitos
cidadãos deriva do baixíssimo grau de cultura e de educação cívica, com que
hoje se sai das escolas e universidades. É assustador ver o que se passa nas
redes sociais, que indicia um nível de boçalidade intelectual, que não é de bom
augúrio para um futuro saudável do país.
Que, ao fim de oito anos de desgaste governamental
do PS, com tudo quanto de negativo aconteceu, o PSD só tenha conseguido um
número de deputados igual ao do PS, mostra a fragilidade do futuro governo e a
relativa pouca fé dos eleitores no partido de Montenegro. Isto convocaria, a
meu ver, uma atitude de adultos da parte tanto do PSD como do PS: esquecerem-se
de lutas partidárias e entenderem-se naquelas áreas essenciais ao bem estar do
país. Se o não fizerem o descrédito nesta democracia aumentará e o ovo da
serpente dará mais filhos.
Eis, em resumo muito resumido, o que penso da
situação em que estamos.”
Eugénio Lisboa, 12.03.2024
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