Rio Zambeze, Moçambique |
O rio da minha infância : sotaque da terra, pronúncia da própria vida. Esse rio transcorre não no mundo mas em mim. Como se eu fora natural da água e não de lugar terreno. Às vezes flui manso , diluindo os amargos recantos , consolando as arestas da minha idade. Outras, fundo e espesso, quase imitando o fogo. Então , em sua corrente me ensombro. E me duvido: afogar é morrer na água ou no fogo?
Afinal , a fúria é breve. O rio simplesmente se lavava da morte, sacudindo destroços de mim que se espreguiçavam na torrente. A coragem do rio é o seu caminhar suicida para o mar. A bondade da água é o seu incansável retorno ao regaço da vida.
Mia Couto, Natural da água (Cronicando)
Afinal , a fúria é breve. O rio simplesmente se lavava da morte, sacudindo destroços de mim que se espreguiçavam na torrente. A coragem do rio é o seu caminhar suicida para o mar. A bondade da água é o seu incansável retorno ao regaço da vida.
Mia Couto, Natural da água (Cronicando)
Rememorar é sempre um momento de retorno à vida, que foi nossa ou de cada um de nós. Às vezes expõe amargos recantos . Outras, alegrias vividas ou surpresas esquecidas.
Mia Couto, na sua escrita prodigiosa, dá o mote para relembrar uma soberba composição do grande Springsteen.
Bruce Springsteen, em The River (The River Tour, Tempe 1980)
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