O novo saber que o género humano vai adquirindo não compensa o saber que se propaga apenas pela transmissão oral directa, o qual, uma vez perdido, nunca mais se pode readquirir e retransmitir: nenhum livro pode ensinar aquilo que apenas se pode aprender na infância, se se entrega o ouvido e o olho atentos ao canto e ao voo dos pássaros e se se encontra então alguém que pontualmente lhes saiba dar um nome.
Italo Calvino
Oh! A idade venturosa da infância! Onde há outra mais feliz e mais tranquila, mais sorridente – isto é, mais egoísta?… Em volta de nós podem suceder as piores catástrofes. Se elas nos não arrancam nem os brinquedos nem os bolos, não nos atingem de forma alguma… não as compreendemos sequer…
Quando muito, correm-nos lágrimas vendo chorar as nossas mães. No entanto, é só ainda vagamente que percebemos a dor humana. Por isso as nossas lágrimas secam depressa diante dos brinquedos. E se o quadro em que nos agitamos é risonho, a infância tansforma-se-nos então num jardim maravilhoso. Para as crianças felizes, só para elas, existe realmente um céu – o céu dos seus primeiros anos.
Mário de Sá-Carneiro
Quando
as crianças brincam
Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.
Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.
E
toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
Se
quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.”
Fernando Pessoa
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.”
Fernando Pessoa
Toda
criança é um artista. O problema é como manter-se artista depois de crescido.”
Pablo Picasso
Pablo Picasso
A
infância não é um tempo, não é uma idade, uma colecção de memórias. A infância
é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos
surpreendermos, para nos deixarmos encantar. Quase tudo se adquire nesse tempo
em que aprendemos o próprio sentimento do Tempo.
Mia Couto
Mia Couto
De
todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o
homem do que as crianças?”
Ernest Hemingway
Ernest Hemingway
Nós
não paramos de brincar porque ficamos velhos.
Ficamos velhos porque paramos de brincar.
George Shaw
Ficamos velhos porque paramos de brincar.
George Shaw
Amai
as flores, crianças!
Sois irmãs nos esplendores,
Porque há muitas semelhanças
Entre as crianças e as flores…”
Olavo Bilac
Sois irmãs nos esplendores,
Porque há muitas semelhanças
Entre as crianças e as flores…”
Olavo Bilac
“[…]
precisei de uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças.”
Pablo Picasso
Pablo Picasso
Brincar
com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo…
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
A
infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano.
Jean Piaget
Jean Piaget
Que
as coisas continuem como antes: eis a catástrofe.’ A infância é promessa de
começo, testemunho do eterno retorno do novo e, portanto, de adiamento da
catástrofe. Talvez seja por isto que todo poder conservador busque domesticar a
infância. Para manter um estado de coisas é preciso, injustamente, conter o
indeterminado. Todavia, isto não é senão um modo grotesco de fracassar. Sejam
quais forem as forças, a infância resiste: condição e promessa do vivo, ela
afirma a persistência inegociável da mutação.
Walter Benjamin
Uma didática da invenção
I
“Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
Walter Benjamin
Uma didática da invenção
I
“Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
II
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.
III
Repetir repetir — até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.
Repetir repetir — até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.
IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.
V
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.
VI
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.
VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.
VIII
Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.
Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.
IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
X
Não tem altura o silêncio das pedras.”
Manoel de Barros
Não tem altura o silêncio das pedras.”
Manoel de Barros
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