Poesia, poema de Sebastião da Gama , recitado por Carmen Dolores (in CD "Poemas da Minha Vida", Dito e Feito, 2003)
Poesia
Poesia
Ai deixa, deixa lá que a Poesia
no perfume das flores, no quebrar
das ondas pela praia,
na alegria
das crianças que riem sem porquê
— deixa-a lá que se exprima, a Poesia.
Fica sentado aí onde estás, Poeta,
e não mexas os lábios nem os braços:
deixa-a viver em si;
não tentes segurá-la nos teus braços,
não pretendas vesti-la com palavras...
Se a queres ter,
se a queres sempre ver pairando à flor das coisas, fica aí
no teu cantinho, e nem respires, Poeta, e não te bulas,
p'ra que ela não dê por ti.
Não a faças fugir, toda assustada
com a tua presença...
Deixa-a, nua, pairando à flor das coisas,
que ela não sabe que a viste,
nem sabe que está nua,
nem sequer sabe que existe...
02.02.1945
Sebastião da Gama ,in "Serra-Mãe", Lisboa: Portugália Editora, 1945; Lisboa: Edições Ática, Colecção Poesia, 6.ª edição, 1991 – pp. 132-133
Sebastião da Gama por Maria Barroso.
Maria Barroso declama poemas do seu colega de faculdade e amigo Sebastião da Gama:
- Apontamento
- Versos para eu dizer de joelhos
- Elegia para uma gaivota
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