Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas, às vezes, a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Clarice Lispector, "A descoberta do mundo"
Há datas que nos convocam. A sua convocação é uma inevitabilidade. Residem na iminência do que já sucedeu. Convocam-nos porque moram em nós. Não são apenas datas. O conceito de data fica vazio se não fizer apelo a uma qualquer circunstância. E apesar de se circunscrever a um tempo , carrega de sentido esse apelo.
E, quando se é convocado pela celebração do nascimento de alguém que nos fez gente e nos amou para sempre, há uma urgência na resposta. É uma data maior porque maior é o seu sentido. Nele reside o gérmen da nossa essência.
Foi há muito esse nascimento . Marcou para sempre o calendário de um percurso, de uma vida. Num dia de Setembro, de um tempo ido, nasceu o meu pai. Um pai que é uma lembrança incessante.
Viver com ele e por ele foi a experiência mais desafiante da minha vida. Aprendi que a paternidade acolhe , ensina , protege e promove a liberdade. Etapas que me foram construindo. Um tempo de aprendizagem, sob o olhar de um pai que nunca deixou de amar e de celebrar a vida. Soube celebrá-la, enquanto viveu.
Hoje, a saudade fortalece a imperecível e urgente vontade de lhe gritar que me faz falta .
Parabéns, pai.
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