Soneto aos animais que se escondem
Os que não gostam da luz
que é clara,
os que se escondem
debaixo da terra,
esses em quem a coragem é
rara,
os que arranham mas fogem
à guerra,
as minhocas que são
hermafroditas,
e só se atrevem a sair à
noite,
as toupeiras com patas
pequenitas
e garras que arranham à
meia-noite,
o escaravelho que come
excrementos
e pica de-repente, com
veneno,
a cobra-cega que foge dos
ventos,
anfíbio sem patas, de
corpo obsceno,
são animais que odeiam a
luz
e usam a terra como
capuz.
14.07.2023
Eugénio Lisboa
NOTA: O anonimato
sob o qual certas pessoas gostam de se esconder dá para tudo: para fazer
comentários anónimos e para escrever cartas anónimas. Tudo, território
repulsivo. Exceptuo disto, as almas cândidas que se refugiam no anonimato, por
pudor ou timidez, mas sem malícia. A estas só há que encorajá-las a saírem para
a luz do dia. Quando uso os animais que vivem debaixo da terra, como metáfora,
para os cultores do anonimato, faço uma perdoável injustiça: os animais
escondem-se por razões de sobrevivência; os humanos fazem-no, quase sempre, por
falta de decência.
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