por Eugénio Lisboa
“As pessoas,
de uma maneira geral, ficam deslumbradas com os grandes milionários, com os
“empresários de sucesso”, que têm muitos carros, muitas casas, fazem viagens
submarinas e estratosféricas, que custam milhões, e gostam de aparecer nos
locais onde se gosta de aparecer. Mesmo os políticos provincianos não escondem
o seu deslumbramento e subserviência, perante o prestígio do dinheiro.
Presume-se que, para se chegar ao topo dessa pirâmide, é preciso ter uma
inteligência fenomenal e uma genial capacidade de empreendimento. Quando nos
aproximamos, um bocadinho de mais perto, destas estátuas a haver, verificamos,
com surpresa e quase desilusão, que não é desta massa que se fazem nem as
grandes ideias nem as grandes descobertas. O principal ingrediente das grandes
fortunas não é nem a inteligência nem uma intuição genial. Isso anda
quotidianamente documentado, nas trafulhices destapadas pelo Ministério
Público, fora as ainda não destapadas. Quem dispõe de bons advogados, de
economistas espertos e de uma razoável falta de escrúpulos, faz bom caminho,
mesmo com uma inteligência nada invulgar. Dizia o grande dramaturgo irlandês,
George Bernard Shaw, que não há fortunas honestas. E, de certo modo, isto é
verdade. O rigor da honestidade raramente convida ao enriquecimento milionário.
E, quanto a deslumbramento perante a inteligência de alguém, nunca se há de ver
um espertalhão rico a congeminar uma teoria da relatividade ou uma lei da
gravitação universal. E, se o ricaço fácil e muito aquém da verdadeira
inteligência e todas as “glórias do momento” vão ser esquecidos pelo fluir
inexorável do tempo, será talvez “o parvo dum poeta” ou “um geómetra maduro”,
com augurava Pessoa, quem vai deixar rasto mais duradouro.
Mas tenho más
notícias para os grandes ricaços: nenhum deles passará pelo orifício de uma
agulha, quanto mais entrar no reino dos céus. Disse-o o parvo de um profeta há
mais de dois mil anos.”
Eugénio Lisboa, em 19.07.2023
Sem comentários:
Enviar um comentário