sexta-feira, 28 de julho de 2023

Aforismos sobre o invejoso


Inveja (c. 1304-1306), afresco de Giotto di Bondone
e ajudantes, na Cappella degli Scrovegni, Pádua.

Aforismos sobre o invejoso

 
                       À memória do grande aforista Cioran.
 
O invejoso morre, muitas vezes, não à míngua de excesso, mas à míngua de pouca coisa.

A inveja é uma espécie de impotência.

O invejoso morrerá sempre de não ter comido o que outros comem. Mais do que comer, ele desejaria que os outros não comessem.

Não sendo capaz de fruir, o invejoso quer impedir os outros de fruir. Como o caranguejo, que, vendo outro caranguejo a subir um montículo, em vez de o imitar e subir também, puxa-o para baixo, impedindo-lhe  a subida.

O invejoso odeia o vazio, mas não sabe preenchê-lo.

O invejoso tem fome, mas não sabe mastigar.

O invejoso não procura ter, procura que o outro não tenha.

O invejoso gostaria de irradiar luz, mas irradia peçonha.

O invejoso olha-se ao espelho e não gosta do que vê.

O invejoso, escritor medíocre, incendiaria bibliotecas e livrarias, para evitar comparações.

O invejoso não deseja medir-se com os outros: prefere aniquilá-los. Pereça o universo, mas salve-se o seu orgulho.

O invejoso é um assassino impotente, um criador estéril e um amante sem líbido.
Eugénio Lisboa, 28.07.2023

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