Inveja (c. 1304-1306), afresco de Giotto di Bondone
e ajudantes, na Cappella degli Scrovegni, Pádua.
Aforismos sobre o invejoso
À memória do grande aforista Cioran.
O invejoso morre, muitas vezes, não à míngua de excesso, mas à míngua de
pouca coisa.
A inveja é uma espécie de impotência.
O invejoso morrerá sempre de não ter comido o que outros comem. Mais do
que comer, ele desejaria que os outros não comessem.
Não sendo capaz de fruir, o invejoso quer impedir os outros de fruir.
Como o caranguejo, que, vendo outro caranguejo a subir um montículo, em vez de
o imitar e subir também, puxa-o para baixo, impedindo-lhe a subida.
O invejoso odeia o vazio, mas não sabe preenchê-lo.
O invejoso tem fome, mas não sabe mastigar.
O invejoso não procura ter, procura que o outro não tenha.
O invejoso gostaria de irradiar luz, mas irradia peçonha.
O invejoso olha-se ao espelho e não gosta do que vê.
O invejoso, escritor medíocre, incendiaria bibliotecas e livrarias, para
evitar comparações.
O invejoso não deseja medir-se com os outros: prefere aniquilá-los.
Pereça o universo, mas salve-se o seu orgulho.
O invejoso é um assassino impotente, um criador estéril e um amante sem
líbido.
Eugénio Lisboa, 28.07.2023
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