A sabedoria é mesmo feminina. Correndo o risco de me repetir ou citar a mim mesma, direi que a «sophia» é feminina. A sabedoria é feminina e a filosofa é masculina. O homem enamora-se da sabedoria, mas nunca chega lá. E o percurso para... A mulher, ela própria, é ovularmente o segredo do Universo. Ela contém em si a sabedoria. As vezes não tem é consciência disso.
Natália Correia
Chris De Burgh - Lady In Red (Official Video)
Solidão
por Irene Lisboa
" Há muitos anos...
Tinha eu um vestido encarnado.
E porque se intrometeu aqui o vestido encarnado?
Talvez para me retratar . Está-lhe tanta coisa apensa! Até a minha idade, a minha figura, quiçá o meu carácter. De étamine lisa, sem mangas nem gola.
E adoeci. Vivia sozinha. Tinha um gato. A rua era muito feia e escura . Eu vinha de outras terras . Caí naquela cisterna...
Adoeci e uma amiga , que me invejava ( as de hoje, não; já não sou invejável; perdi a cor do cabelo, a vida dos olhos, não uso , nem por casa, vestidos vistosos), bateu-me à porta. Não precisaria eu dela?
Não - foi a minha resposta - muito obrigada .
Sã, sã é que eu preciso de solicitude, de vida - de comparticipação da vida! Fundamente o senti naquela ocasião.
Deixavam-me morrer de solidão, uns e outros. E vinham , quando me viam abatida, perguntar se eu precisava então delas ou deles...
Mas hoje já tenho alma para pensar coisas destas; lembro-as."
Irene Lisboa, in Solidão II , Editorial Presença, pp.248, 249
"Ainda que, quando era nova, fosse muito apaixonada, não me lembro se alguma vez tive ambições literárias; julgo que essa ideia nunca me ocorreu, pois a ambição era uma coisa de homens e, se aplicada a uma mulher, era um insulto . Foi necessário o movimento de libertação feminino para que algumas mulheres se apoderassem desse conceito, tal como fizeram com a ira, a agressividade, a concorrência, o gosto pelo poder, o erotismo e a coragem de dizer NÃO. As da minha geração agarravam , de vez em quando, as oportunidades disponíveis, que não eram muitas, mas raramente traçavam um plano para triunfar."
Isabel Allende, in Mulheres da Minha Alma, Porto Editora, Novembro de 2020, p. 83
As rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas
Sophia Mello Breyner, in Dia do Mar, 1947, Edições Ática
"Grande parte da minha obra é dedicada à minha mãe. Eu não sou nada maternal. Se sou maternal é no sentido, digamos, psicobiologicamente feminino, de toda a mulher ser um translado da Mãe Eterna. Mais nada. Só nisso é que sou mãe..."
Natália Correia
É por ti que se enfeita e se consome
Desgrenhada e florida, a Primavera.
É por ti que a noite chama e espera.
És tu quem anuncia o poente nas estradas.
E o vento torcendo as árvores desfolhadas
Canta e grita que tu vais chegar.
Sophia Mello Breyner, in Dia do Mar, 1947, Edições Ática
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