JOSÉ
PACHECO PEREIRA
por Eugénio Lisboa
À medida que avançamos na vida, apercebemo-nosde que a coagem mais rara é a coragem de pensar.Anatole France, La Vie Littéraire
"A Sociedade Portuguesa de Autores acaba de atribuir o Prémio VIDA E OBRA a José Pacheco Pereira. Dificilmente poderia ter escolhido melhor.
José Pacheco Pereira situa-se naquela nobre linhagem de clercs que, como o Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Raul Proença, António Sérgio ou Jaime Cortesão, souberam gerir a nobre missão de serem incómodos. A melhor maneira de ser incómodo é não ter medo de pensar e, depois, dizer sempre o que se pensa. Coisa raríssima, querer pensar: Huxley observava escarninhamente, que pensar é a excepção à regra de não pensar. Mas não chega pensar: quando o pensamento pode incomodar muita gente, há duas escolas de pensamento, uma mete a viola no saco ou diz o que não pensa, a outra diz mesmo o que pensa, venha a tempestade que vier.
No nosso milieu intelectual, abundam sobretudo os que fazem cálculos de interesses e futurologias de cargos e sinecuras. Antes de porem cá fora o que pensaram, calculam os custos e quase sempre concluem que são demasiado elevados. Os outros – um número muito reduzido – decidem que tem melhor estética ser destemido e que, além disso, como observava Shaw, ninguém se diverte tanto como a pessoa que diz o que pensa: é só ver o ar atabalhoado dos que assistem ao exercício.
José Pacheco Pereira, armado de uma grande cultura (não só política) e de uma intrepidez à prova de bala, quando fala, escreve ou actua, deixa-nos sempre a grata impressão de pertencer a um único Partido: o da Inteireza do pensar e do “franc parler” que Stendhal tanto estimava. É pois parte integrante do melhor que o nosso património cultural tem para legar aos vindouros.
Assim seja e bem haja.”
Eugénio Lisboa, em 15.02.2023
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