por Eugénio Lisboa
“Para os leitores que se tornam
grandes leitores intensivos, mas não traga-livros, as primeiras leituras feitas
na aurora da adolescência deixam uma marca profunda. Diria mesmo, uma marca
inapagável e transcendente.
Quando estabeleço uma diferença entre
leitores “intensivos” e “traga-livros”, quero dizer simplesmente isto: o leitor
intensivo não é o consumidor apressado de livros, saltando, ofegantemente, de
um para outro, sem se demorar em nenhum; o leitor intensivo lê muito, mas lê
devagar e demora-se longamente dentro do livro, relê-o em sucessivas revisitas
e nunca mais o larga de vista. Ao longo da vida, vai aprofundando o
conhecimento do livro, dos seus personagens, percebendo melhor os motivos e
matizando os juízos. O leitor intensivo quase chega a pensar que foi ele que
escreveu os livros que ficam, para sempre, consigo. E, de certo modo, assim
foi. Para dar só um exemplo, a leitura, quando tinha catorze ou quinze anos, do
belo romance de Stendhal, LE ROUGE ET LE NOIR, de tal maneira me marcou, que me
pus logo a redigir o MEU romance, intitulado HISTÓRIA DE JULIÃO (o protagonista
do romance de Stendhal chama-se Julien Sorel…). Porque tanto entrou em mim a
beleza acutilante e descascada daquele romance, que para sempre me apropriei
dele. A grande leitura é uma apropriação. Ler a sério é roubar. Ladrão de
livros é o que o grande leitor é. E rouba-os de diferentes maneiras: uma delas
é entrar na narrativa e modificá-la a seu contento. Querem um exemplo? Passo a
vida a dizer que a protagonista daquele romance de Stendhal, a Senhora de
Rênal, de quem realmente gostava era de mim e não do ambicioso latinista,
Julien Sorel… Chamem-me o que quiserem: factos são factos.
Vou agora dar uma lista das obras que mais
profundamente me marcaram, lidas em Lourenço Marques, até aos 17 anos, altura
em que vim para Lisboa, cursar engenharia. Outro dia, farei alguns comentários
sobre estes meus profundos “encontros”.
POEMAS
LÍRICOS e PASSAGENS DOS LUSÍADAS - Camões
O
BOBO – de Alexandre
Herculano
A
MORGADINHA DOS CANAVIAIS – de
Júlio Dinis
VIAGENS
NA MINHA TERRA – Garrett
FREI
LUIS DE SOUSA - Garrett
O
ARCO DE SANT’ANA – Garrett
FAMÍLIA
SEM NOME – Júlio
Verne
QUO
VADIS? – Henryk
Sienkiewicz
O SARGENTO-MOR
DE VILAR – Arnaldo Gama
AS
VIAGENS DE TOM SAWYER – Mark
Twain
AS
AVENTURAS DE HUCKLEBERRY FINN – Mark
Twain
VERMELHO
E NEGRO – Stendhal
ARMANCE
– Stendhal
RESSURREIÇÃO
– Tolstoi
ASSIA
– Ivan Turguenev
JANE
EYRE – Charlotte
Bronte
VILLETTE
– Charlotte Bronte
CANDIDE
– Voltaire
ZADIG
– Voltaire
O
LÍRIO VERMELHO – Anatole
France
COÉFORAS
– Ésquilo
REI
ÉDIPO – Sófocles
NOITES
BRANCAS – Dostoiewsky
ESTÁ
MORTA! – Dostoiewsky
CORAÇÃO
DÉBIL - Dostoiewsky
O
ESCARAVELHO DE OURO – Edgar
Poe
ARCO-ÍRIS
– Wanda Wassilewska
ELECTRA
E OS FANTASMAS – Eugene
O´Neill
ANA
CRISTINA – Eugene
O’Neill
ALÉM
DO HORIZONTE – Eugene
O´Neill
NOSSA
SENHORA DE PARIS – Victor
Hugo
O
DRAMA DE JOÃO BAROIS – Roger
Martin du Gard
OS
THIBAULT – Roger
Martin du Gard
O
TIO GORIOT – Balzac
UMA
GOTA DE SANGUE – José
Régio
POEMAS
DE DEUS E DO DIABO – José
Régio
FEL
– José Duro
ESTES
DIAS TUMULTUOSOS – Pierre
Van Paassen
ADEUS
ÀS ARMAS – Hemingway
POR
QUEM OS SINOS DOBRAM – Hemingway
CONTOS
– Hemingway
CONTOS
– William Saroyan
AS
VINHAS DA IRA – Steinbeck
RIKKI-TIKKI-TAVI
– Rudyard Kipling
O
HOMEM QUE MORREU - D. H. Lawrence
UMA
MULHER FUGIU A CAVALO – D.
H. Lawrence
CODINE
– Panait Istrati
TONIO
KROGER – Thomas Mann
CONTOS
– O. Henry
A
LOUCURA DE PEREDONOV – Fiodor
Sologub
OS
MENINOS DIABÓLICOS – Jean
Cocteau
VIDAS
PARALELAS – Plutarco
PÂNTANO
– João Gaspar Simões
A
SELVA – Ferreira de
Castro
ETERNIDADE
– Ferreira de Castro
CAMINHOS
CRUZADOS – Erico
Veríssimo
TERRAS
DO SEM FIM – Jorge
Amado
CAPITÃES
DA AREIA – Jorge
Amado
O
ALIENISTA – Machado
de Assis
A
ARMADILHA E OUTROS CONTOS – Pirandello
TEATRO - Oscar
Wilde
O
RETRATO DE DORIAN GRAY – Oscar
Wilde
CONTOS
E NOVELAS – Oscar
Wilde
TAMBÉM
OS CISNES MORREM – Aldous
Huxley
O
SORRISO DA GIOCONDA – Aldous
Huxley
SPARKENBROKE
– Charles Morgan
O
HOMEM, ESSE DESCONHECIDO – Alexis
Carrel
AMOK
– Stefan Zweig
HISTÓRIA
DA FILOSOFIA – Will
Durant
Eugénio
Lisboa, em 22.02.2023
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