Elogio ao ócio
por Bertrand Russell
“Movimentar a matéria em quantidades
necessárias à nossa existência não é, decididamente, um dos objetivos da vida
humana. Se fosse, teríamos de considerar qualquer operador de britadeira
superior a Shakespeare. Fomos enganados nessa questão por dois motivos. Um é a
necessidade de manter os pobres aplacados, o que levou os ricos a pregarem, durante
milhares de anos, a dignidade do trabalho, enquanto tratavam de se manter
indignos a respeito do mesmo assunto. O outro são os novos prazeres do
maquinismo, que nos delicia com as espantosas transformações que podemos
produzir na superfície da Terra. Nenhum desses motivos exerce um especial
fascínio sobre o verdadeiro trabalhador. Se lhe perguntarmos qual é a melhor
parte de sua vida, ele dificilmente responderá: ‘É o trabalho manual, que sinto
como a realização da mais nobre das tarefas humanas, e também porque fico feliz
em pensar na capacidade que tem o homem de transformar o planeta. É verdade que
meu corpo precisa de horas de descanso, que procuro preencher da melhor forma,
mas meu maior prazer é ver raiar o dia para poder voltar ao trabalho, que é a
fonte da minha felicidade.’ Nunca ouvi nada do género saindo da boca de nenhum
trabalhador. Eles encaram o trabalho como deve ser encarado, uma forma de
ganhar a vida, e é do lazer que retiram, aí sim, a felicidade que a vida lhes
permite desfrutar.”
Bertrand Russell, in O Elogio ao Ócio, Sextante, 2002. P. 31.
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