quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Depois da chuva


Continuamos com Miguel Torga. Aliás, sempre continuaremos. Hoje são apenas alguns sábios excertos , retirados da sua monumental obra diarística. 

"O mundo com vários abcessos prestes a rebentar. Ainda há pouco exultávamos de esperança, e já ninguém tem paz na alma. É que não há mais tempo de duração. Todas as nossas horas são ofegantes , e cadentes as estrelas anunciadas e anunciadoras. Temos tudo, e falta-nos o essencial. É como se de repente a vida ficasse do avesso e a não soubéssemos vestir."
Miguel Torga, in" Diário XVI", Círculo de Leitores.


" Há uma coisa que eu nunca poderei perdoar aos políticos: é deixarem sistematicamente sem argumentos a minha esperança ." 
Miguel Torga, in " Diário XIV" , Círculo de Leitores.
 
Comunicado

Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem que ninguém lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.
Coimbra, 18 de Abril de 1968
Miguel Torga, in “Diário IX”, Circulo de Leitores,

Depois da chuva

Abre a janela, e olha!
Tudo o que vires é teu.
A seiva que lutou em cada folha,
E a fé que teve medo e se perdeu.

Abre a janela, e colhe!
É o que quiser a tua mão atenta:
Água barrenta,
Água que molhe,
Água que mate a sede...

Abre a janela, quanto mais não seja
Para que haja um sorriso na parede!
                Coimbra, 8 de Março de 1949
Miguel Torga, in "Diário I-IV", Circulo de Leitores.

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