Edição Gradiva,Julho 2022, Colecção Fora de Colecção,Págs. 296 Capa Brochado/capa mole ,Preço €14,50 - €13,05. |
Teresa Martins Marques, doutorada em Literatura e Cultura Portuguesas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigadora do CLEPUL. |
Um
belo e instrutivo romance de Teresa Martins Marques:
NÃO MATARÁS
por Eugénio Lisboa
NÃO MATARÁS
por Eugénio Lisboa
não tire prazer da leitura de um bom romance, deve
ser intoleravelmente estúpida.
Jane Austen
Teresa Martins Marques, que já antes nos dera um impressivo romance – A MULHER QUE VENCEU DON JUAN – contemplou-nos agora com um explosivo romance histórico, centrado corajosamente no infame assassinato do político Aldo Moro, perpetrado pelas Brigadas Vermelhas, de má memória. A autora, não só gosta de contar boas histórias, como agrava o dossier, gostando de as contar empolgantes. E não atravancando o horizonte do leitor com picardias narrativas desnecessárias.
Uma coisa se torna evidente, à medida que vamos mergulhando na leitura deste livro, no qual a autora se empenhou com verdadeira paixão, investindo nele três anos e meio de investigação histórica, com uma vontade carbonária de restabelecer a verdade, denunciando as cumplicidades cobardes por detrás deste crime. A escritora americana Toni Morrison escreveu algures que há livros que desejamos ler mas que ainda não foram escritos, portanto temos de ser nós a escrevê-los. Julgo que este romance foi, para Teresa Martins Marques, um desses livros.
A história verdadeira – os cinquenta e cinco dias de sequestro, que desaguam no assassinato em 9 de Maio de 1979, na garagem de uma casa em Roma - são o miolo central do livro; mas a história ficcionada da ligação de Anna com Moro, muito astuciosamente tecida, a partir dos cabelos encontrados no casaco do morto, nem por ser de dimensão mais reduzida, é menos crucial e dilacerante. O medo do muito que Moro sabia e que intersectava muita gente dos mais variados quadrantes, disfarça-se na bela mas falsa auréola de que se não negoceia com terroristas. Raramente um sórdido assassinato revestiu tão belas vestes.
Teresa dá-nos dois admiráveis retratos, ao longo desta narrativa absorvente e destemidamente documentada: Aldo Moro, político impoluto e marido e pai exemplares, e Anna (ficcional mas nem tanto…), a qual, trazendo do passado uma ferida de monta, vai descobrindo finalmente uma espécie de amor sublimado pelo sequestrado, cuja inteireza, doçura e bondade a ofuscam.
Não vou aqui desvelar minúcias da narrativa empolgante que Teresa Martins Marques soube congeminar para fazer bem presente um crime cometido há quase cinquenta anos. Mas o empenho apaixonado que pôs na concepção, construção e redacção desta ardorosa interpelação, mostra, como poucos textos, um testemunho de alto gabarito do que pode ser a solidariedade com os perseguidos e injustiçados deste nosso mundo. Com razão disse a romancista canadiana Margaret Atwood que uma pessoa sozinha não é uma pessoa completa: só existimos em relação com os outros. A autora de NÃO MATARÁS visou, com este livro, uma merecida completude.”
Eugénio Lisboa, 12.09.2022
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