quinta-feira, 7 de julho de 2022

Perda de Poderes

No início, era só o assombro:
o espanto era o motor de arranque,
que roncava com todo o desassombro,
olhando o universo de palanque.
 
Tinha olhos de gato espantado
e todo o deslumbramento era pouco:
corria, sedento, por todo o lado
e gritava, cheio, até ficar rouco!
 
Mas fui-me habituando ao espanto,
amaciando, aos poucos, a surpresa.
E o motor de arranque, entretanto,
 
perdeu, pouco a pouco, a destreza.
Habituarmo-nos ao que cintila
tira poderes à nossa pupila.
                        07.07.2022
Eugénio Lisboa

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