O amor exclusivo
Não sei amar as almas.
Amei um corpo
e a nada mais amei.
Nem mesmo às estrelas.
E nem sequer o vento.
Caminhei entre as luzes
de uma alameda branca.
A aurora me encontrou
num chão de palha.
O mundo era inocente
como um corpo desnudo.
Um silêncio de sol
guardava a claridade.
Lêdo Ivo, in "Crepúsculo Civil", Editora Record,1990.
DA GRANDE PÁGINA ABERTA DO TEU CORPO
Da grande página aberta do teu corpo
sai um sol verde
um olhar nu no silêncio de metal
uma nódoa no teu peito de água clara
Pela janela vejo a pequenina mão
de um insecto escuro
percorrer a madeira do momento intacto
meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa
ó favos de sol
Da grande página aberta
sai a água de um chão vermelho e doce
saem os lábios de laranja beijo a beijo
o grande sismo do silêncio
em que soberba cais vencida flor
António Ramos Rosa, in "Nos Seus Olhos de Silêncio", Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1970; "Antologia Poética", prefácio, bibliografia e selecção de Ana Paula Coutinho Mendes, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001
Digo-te muitas vezes
Boston,23 de Setembro 90
Alberto de Lacerda, in "Átrio", Imprensa Nacional Casa da Moeda, Junho 1997, (INCM) p.57
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