sábado, 24 de julho de 2021

A Biblioteca Americana de Paris


A Biblioteca Americana em Paris
Localizada no sossegado 7º arrondissement, e com vista para a Torre Eiffel, a American Library Association fundou a Biblioteca Americana em 1920 com os  os muitos livros que foram doados para  auxiliar os  soldados americanos que lutavam na Primeira Guerra Mundial. A associação procurou trazer o melhor da literatura americana e da biblioteconomia para a França. A biblioteca viveu duas guerras e vários movimentos diferentes pela cidade. Gertrude Stein era uma assinante da biblioteca  na  sua época parisiense. Ernest Hemingway contribuiu para o prestígio  literário da biblioteca. Hoje, a biblioteca atrai expatriados e estudantes internacionais com leituras de autores e poetas proeminentes, programas infantis, aulas e eventos comunitários.

Para aqueles que têm prazer na leitura e que são apreciadores de  novidades literárias, aqui está um excerto de um interessante romance que acabo de ler:

A Biblioteca Americana de  Paris
por Janet Skeslien Charles
"Quando cheguei à Biblioteca na manhã seguinte, Miss Reeder estava sozinha na mesa da sala de leitura, debruçada sobre o jornal. Impecável como sempre, com o seu vestido de malha azul , rímel nas pestanas, batom perfeito, não deixava que os seus receios a impedissem de trabalhar.
Talvez sentindo o meu olhar, ergueu a cabeça.  Na sua expressão, vi tanta coisa - preocupação, curiosidade, coragem , afeição. 
- Alguém da sua família ficou ferido durante o bombardeamento? - perguntou.
- Não. 
- Óptimo - Empunhou uns telegramas. - Infelizmente a minha está a suplicar-me que volte para casa.
Não os censurava. Por vezes, até eu queria ir embora dali.
- Como pode ficar?
Ela envolveu-me suavemente o rosto com as mãos.
- Porque eu acredito no poder dos livros. Fazemos um trabalho importante, garantindo que o conhecimento continua disponível e criando um sentido de comunidade. E porque tenho fé.
- Em Deus?
- Em jovens mulheres como tu e a Bitsi e a Margaret. Sei que vão endireitar o mundo.
Os leitores do costume reuniam-se em círculos para ler as notícias. O Figaro congratulava os parisienses pelo seu sangfroid. Declarou que tinham sido lançadas mil e oitenta e quatro bombas, matando quarenta  e cinco civis e ferindo cento e cinquenta e cinco. Uma fotografia mostrava um edifício bombardeando com os quartos abertos ao mundo como uma casa de bonecas.
- Todas as batalhas são  «uma magnífica luta» ou uma «valorosa luta». - observou Monsieur de Nerciat.
- A cada dia que passa, há mais artigos censurados - disse a professora Cohen. - O que estarão os censores a esconder?
Mr. Pryce-Jones quis falar comigo em particular. Os seus  leitosos olhos azuis estavam ensombrados de preocupação. 
- Se eu tivesse um irmão, ia querer saber.
No vestiário, entre guarda-chuvas partidos e cadeiras instáveis, o diplomata reformado confiou-me que os comunicados não estavam a revelar a verdadeira história.
- Mas ... os jornais dizem que vamos vencer.
Não, disse ele. De acordo com a sua fonte na embaixada, dezenas de milhares de soldados franceses e ingleses tinham sido capturados. Em Dunquerque, os alemães tinham cercado as tropas aliadas que estavam encurraladas pelo Canal. Enfrentando ataques do inimigo, navios ingleses tinham saído para ir recolher os seus soldados. Em breve quase não restaria qualquer presença militar britânica no continente.
Afundei-me numa cadeira, incapaz de conciliar o abismo entre o que tínhamos lido e o que ele me estava a contar. Os ingleses estavam a retirar poucas semanas depois de o verdadeiro combate começar. O que aconteceria às tropas francesas? O que aconteceria ao Rémy?
- Lamento, ma grande.
- Fez bem em dizer-me. Porque não podem eles salvar os nossos soldados?
- De acordo com as minhas fontes, ajudaram todos os que conseguiram. Não se esqueça, estamos a falar de barcos de pesca e botes juntamente com os navios da marinha a tentar evacuar trezentos mil homens.
A Linha Maginot ia manter-nos a salvo. França tinha o melhor exército  - não passavam de mentiras. Oh, Rémy , onde estás? Tinha assumido que, se alguma coisa lhe acontecesse, eu saberia, mas não sentia nada."
Janet Skeslien Charles, in A Biblioteca de Paris , Suma - Penguin Random House  Grupo Editorial, Junho de 2021, pp. 181, 182

SINOPSE
"Paris, 1939. A jovem Odile Souchet tem tudo: um bonito namorado polícia e um emprego de sonho na Biblioteca Americana em Paris. No entanto, quando a guerra estoura e os nazis marcham sobre a cidade, Odile corre o risco de perder tudo o que é importante para ela, incluindo a sua amada biblioteca. Porque os livros contêm palavras proibidas e ideias que devem ser destruídas, sabe que, nos momentos difíceis, os templos da cultura estão em perigo.
Odile não pode permitir que isso aconteça: ela deve salvar essas páginas, para que possam alimentar a mente de quem chegar depois. Com os seus companheiros, junta-se à Resistência com as melhores armas que possui: os livros. Coloca o centro à disposição dos judeus: expulsos das suas casas, sentem-se seguros entre os livros, e Odile defendê-los-á, custe o que custar. Contudo, quando a guerra, finalmente, termina, em vez da liberdade, Odile sente o gosto amargo de uma indescritível traição.
Montana, 1983: Lily é uma adolescente solitária em busca de aventura. A sua velha vizinha solitária desperta-lhe o interesse. Conforme Lily vai sabendo mais sobre o passado misterioso da vizinha, descobre que partilham o amor pela linguagem, os mesmos anseios e o mesmo ciúme intenso, sem suspeitar que um obscuro segredo do passado as liga.
Baseada na verdadeira saga dos heroicos bibliotecários da Biblioteca Americana em Paris durante a Segunda Guerra Mundial, esta é uma inesquecível história de amor, amizade, família e sobre o poder da literatura para nos unir. A Biblioteca de Paris mostra que o heroísmo extraordinário pode, por vezes, ser encontrado nos lugares mais silenciosos."

Críticas de Imprensa:
«Uma carta de amor a Paris, ao poder dos livros e à beleza da amizade.»
Booklist

Sobre a Autora:
"Janet Skeslien Charles é a autora premiada de Moonlight in Odessa, que foi traduzido para dez idiomas. Tem também publicados pequenos textos em revistas como a Slice e a Montana Noir. Janet começou a interessar-se pela incrível história real dos bibliotecários que enfrentaram o «protector do livro» nazi quando trabalhava como gerente de um programa na Biblioteca Americana em Paris. O seu romance A Biblioteca de Paris será publicado em trinta países. Divide o seu tempo entre Montana e Paris."

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