Comemora-se
hoje, 5 de Maio, o dia Mundial da Língua Portuguesa . Foi instituído em 2009, como Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP, através de uma resolução do Conselho de
Ministros da CPLP e proclamado Dia Mundial da Língua Portuguesa , a 25 de Novembro de 2019 , pela UNESCO.
Muitos eventos culturais acontecerão por esse mundo fora ,onde se fala português. Aqui, da minha terra, onde a língua vê o mar, há ressonâncias de vozes que falam e cantam em português. Eu os saúdo e saúdo-te a ti, língua, que fazes de mim um devoto praticante .
A doçura e harmonia da língua portuguesa...
por Francisco Dias Gomes
'Qualquer estrangeiro pode traduzir com facilidade e presteza na sua linguagem todo o pedaço de prosa dos nossos bons autores, visto ser a sintaxe da nossa língua mui natural e correcta, sem a imensidade das inversões que vemos nos outros idiomas antigos e modernos, circunstância que os faz de difícil acesso a quem neles pretende ser instruído, e obsta à sua propagação…
Numa língua tão abundante de simulcadências em todo o género, como a portuguesa, não há necessidade que obrigue a deixar o uso da rima, a qual parece essencial ao nosso verso; e o não usar dela pode ser reputado por fraqueza, e temor de não poder ir pelo caminho que os nossos avós com tanta glória frequentaram. Nem concluem nada os que dizem ser a rima um pesadíssimo grilhão para exprimir com felicidade os conceitos, pois só o pode ser aos que sem engenho, e sem o conhecimento profundo da língua, intentam poetar…
A doçura e harmonia da língua portuguesa é manifesta, não só aos nacionais como também aos estrangeiros; e para tratar amores, e todas as mais qualidades de afectos, nenhuma se lhe iguala. Procede isto não só do génio da Nação Portuguesa, por ser naturalmente inclinada à paixão do amor, e mui desejosa de o publicar em frase de extrema suavidade, mas também por ser a língua mui cheia de rimas de suavíssima harmonia, e letras consoantes de mui doce pronunciação, como bb, dd, ll, mm, nn, ss, zz."
Francisco Dias Gomes , in Obras Poéticas,Paladinos da Linguagem, vol. I, Lisboa-Paris, Aillaud & Bertrand, 1921, pp. 129-130
Francisco Dias Gomes (Lisboa, 1745 – Lisboa, 1795) iniciou os estudos em Direito, em Coimbra, que acabou por não concluir. No entanto, ficou conhecido por ser um célebre crítico apto a avaliar o mérito dos escritores portugueses. Tornou-se assim um dos homens mais eruditos entre os seus contemporâneos. Deixou algumas composições da sua autoria, mesmo considerando que lhe faltava a imaginação de um poeta."
Por uma irmandade da língua
No espaço pluricontinental onde o português convive com outros idiomas locais
por José Eduardo Agualusa
Esta língua que eu amo
Com seu bárbaro lanho
Seu mel
Seu helénico sal
E azeitona
Esta limpidez
Que se nimba
De surda
Quanta vez
Esta maravilha
Assassinadíssima
Por quase todos que a falam
Este requebro
Esta ânfora
Cantante
Esta máscula espada
Graciosíssima
Capaz de brandir os caminhos todos
De todos os ares
De todas as danças
Esta voz
Esta língua
Soberba
Capaz de todas as cores
Todos os riscos
De expressão
(E ganha sempre a partida)
Esta língua portuguesa
Capaz de tudo
Como uma mulher realmente
Apaixonada
Esta língua
É minha Índia constante
Minha núpcia ininterrupta
Meu amor para sempre
Minha libertinagem
Minha eterna
Virgindade
"(...)A língua portuguesa é uma construção conjunta de todos aqueles que a falam — e é assim desde há séculos. A minha língua — aquela de que me sirvo para escrever —, não se restringe às fronteiras de Angola, de Portugal ou do Brasil.
A minha língua é a soma de todas as suas variantes. É plural e democrática.
A sua imensa riqueza está nessa diversidade e na capacidade de se afeiçoar a geografias diversas, na forma como vem namorando outros idiomas, recolhendo deles palavras e emoções.
Aprisionar a língua portuguesa às fronteiras de Portugal (ou de Angola ou do Brasil) seria mutilá-la, roubar-lhe memória e destino.
Com o colapso do Império, o português libertou-se. É nessa língua livre que eu me reconheço, e é por ela que luto."
José Eduardo Agualusa, em artigo publicado no semanário português Expresso do dia 1 de Junho de 2019.
Esta língua que eu amo
Com seu bárbaro lanho
Seu mel
Seu helénico sal
E azeitona
Esta limpidez
Que se nimba
De surda
Quanta vez
Esta maravilha
Assassinadíssima
Por quase todos que a falam
Este requebro
Esta ânfora
Cantante
Esta máscula espada
Graciosíssima
Capaz de brandir os caminhos todos
De todos os ares
De todas as danças
Esta voz
Esta língua
Soberba
Capaz de todas as cores
Todos os riscos
De expressão
(E ganha sempre a partida)
Esta língua portuguesa
Capaz de tudo
Como uma mulher realmente
Apaixonada
Esta língua
É minha Índia constante
Minha núpcia ininterrupta
Meu amor para sempre
Minha libertinagem
Minha eterna
Virgindade
Alberto de Lacerda, in Labareda, Edições Tinta-da-China, Junho de 2018, pp.59,60
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