Manoel de Andrade no Castelo de Silves,Portugal, 14.10.2016 |
Apesar de tanto desencanto,
nada vos direi que sonegue a
esperança,
mas digo que os poetas
jamais silenciarão seu canto,
porque ninguém poderá
desterrar o sonho e a beleza
e porque sempre haverá um
poema de amor a ser escrito.
Os poetas cantam desde a
aurora dos tempos,
pela glória de Aquiles e
pela paixão por Beatriz.
Cantam para gestar uma “Ode
Triunfal”,
para compor “ Uma Canção Desesperada”,
ou para erguer uma bandeira
libertária.
Manoel de Andrade “ O Desterro dos Poetas”
Canção de Amor à América, poema desse belo livro (bilingue) ” Poemas para a Liberdade” , encontrei a essência libertária de um poeta que nunca mais deixei de saudar. Havia ,nesse canto profundo, o eco remoto de um passado quase irmão. Os anos da ditadura salazarista que se arrastaram por quatro décadas no meu país. Manoel de Andrade estendia a sua voz a todos os países agrilhoados da América Latina. Mas extrapolava-se nessa latinidade um velho clamor que era também nosso , de todos aqueles que viveram sem Liberdade. Este poeta teria estado entre nós, estudantes universitários, que na década de sessenta entoavam canções de protesto e desafiavam as forças da Pide. Seria um dos eleitos para o desafio que nos mobilizava. Descobri-o já a Democracia neste Portugal era uma verdade. Mas ao descobri—lo , soube que encontrara um arauto do tempo que todos nós ansiámos. O tempo de um sentimento global e fraterno da condição humana. Manoel de Andrade, brasileiro, lutava por uma bandeira libertária Latino-americana. Era o trovador, o semeador, o bardo que agregava, através do seu canto, os povos sem voz, acorrentados pelo poder de ditadores sem respeito pelo Homem, pela condição humana.
Manoel
de Andrade acaba de fazer oitenta anos. Continua a escrever. Poeta, ensaísta,
historiador é uma referência no mundo da Literatura. Tenho o imenso prazer de o
ter como amigo. Visitou, por várias vezes, o nosso país. As suas palestras
encantaram quem o escutou. É um exímio comunicador. Dele irradia o encanto dos
homens inteiros e bons. Culto e loquaz, tem a sedução dos grandes poetas. É , no entanto, um homem simples que nos acolhe sem as pregas de qualquer vã
fatuidade.
Parabéns, poeta amigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário