E eu caminhei no hospital
Onde o branco é desolado e sujo
Onde o branco é a cor que fica onde não há cor
E onde a luz é cinza
E eu caminhei nas praias e nos campos
O azul do mar e o roxo da distância
enrolei-os em redor do meu pescoço
Caminhei na praia quase livre como um deus
Não perguntei por ti à pedra meu senhor
Nem me lembrei de ti bebendo o vento
O vento era vento e a pedra pedra
E isso inteiramente me bastava
E nos espaços da manhã marinha
Quase livre como um deus eu caminhava
E todo o dia vivi como uma cega
Porém no hospital eu vi o rosto
Que não é pinheiral nem rochedo
E vi a luz como cinza na parede
E vi a dor absurda e desmedida.
Sophia de Mello Breyner, in Grades, Publicações Dom Quixote, Novembro de 1970, pp. 27, 28
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