"(...) Nessas praias de Oran, todas as manhãs de verão parecem ser as primeiras do mundo. Todos os crepúsculos dão-nos a impressão de serem os últimos, agonias solenes anunciadas ao pôr-do-sol através de uma derradeira luz que escurece todos os matizes.
O mar é ultramar; o caminho, cor de sangue coagulado; a praia, amarela. Tudo desaparece com o sol verde; uma hora mais tarde, a lua começa a jorrar das dunas. Nesses momentos, as noites se fazem incomensuráveis sob a chuva de estrelas. Por vezes cruzam-nas tempestades, e os relâmpagos escorrem sobre o dorso das dunas, empalidecem o céu, pondo na areia e nos olhos clarões alaranjados.
Mas nada disso se pode compartilhar. É necessário tê-lo vivido. Tamanha solidão e grandeza dão a esses lugares um rosto inesquecível. Ao nascer da madrugada frágil, passadas as primeiras vagas ainda negras e amargas, é um novo ser o que fende a água da noite, tão difícil de suportar.
A lembrança dessas alegrias não é uma saudade triste; por isso sei que eram boas. Tantos anos depois, ainda persistem em algum recanto de meu coração, que tem dificuldade de ser fiel. E hoje sei que sobre a duna deserta, se eu quisesse retornar, o mesmo céu continuaria derramando sobre mim a sua carga de suspiros e estrelas. Porque aqui estão as terras da inocência."
Albert Camus, in" Noces suivi de L'été", Editions Gallimard, 1959
Albert Camus nasceu a 7 de Novembro de 1913, em Argélia, no bairro Belcourt, zona de Argel, onde se situavam os bairros pobres . Foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura aos 44 anos . Era um escritor famoso e com uma grande obra feita. No entanto, a vida promissora, que se esperava ser prosseguida, acabou dois anos depois. A 4 de Janeiro de 1960, morreu num brutal acidente de viação, quando regressava a Paris , no automóvel do seu amigo Michel Gallimard. Camus perdeu a vida no local e Michel Gallimard morreu cinco dias depois, no hospital. Apesar de desaparecido precocemente, é um dos nomes maiores da literatura francesa e mundial, pelo seu pensamento e por ter produzido uma obra excepcional e de uma riqueza incontornável.
"O Estrangeiro", talvez o seu livro mais famoso, publicado em 1942, vendeu oito milhões de cópias e foi traduzido em quarenta línguas. Luchino Visconti fez uma adaptação cinematográfica em 1962.
A sua obra é bastante volumosa e repartida por vários géneros literários.
Albert Camus pertence ao círculo dos meus eleitos. Eis um excelente documentário que retrata " as vidas" deste grande e íntegro escritor que tão bem problematizou a condição humana.
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