terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Viagens: Colonia del Sacramento











Colónia do Sacramento
por Jorge Luis Borges
"Também por aqui andou a guerra. Escrevo «também» porque a frase pode aplicar-se a quase todos os lugares do orbe. Que o homem mate o homem é um dos hábitos mais antigos da nossa singular espécie, tal como a gestação ou os sonhos.  Aqui, do outro lado do mar, projectou-se  a vasta sombra de Aljubarrota e desses reis que são agora pó. Aqui lutaram os castelhanos contra os portugueses, que assumiram depois outros nomes.  Sei que, durante a guerra do Brasil, um dos meus antepassados sitiou esta praça.
Aqui sentimos de forma inequívoca a presença do tempo, tão rara nestas latitudes. Nas muralhas e nas casas  está o passado, sabor que se agradece na América. Não precisamos de datas nem de nomes próprios, basta o que imediatamente sentimos, como de música se tratasse."
Jorge Luís Borges, in Atlas, Quetzal  Editores, 2018, p.107








































"A história de Colonia del Sacramento, no Uruguai, é a história de um conflito entre Portugal e Espanha. A disputa por essas terras está marcada em cada telhado, em cada muro e em cada pedaço da cidade. Actualmente, a influência arquitectónica portuguesa predomina entre as construções e ruínas remanescentes dos primórdios desse recanto às margens do Rio da Prata. Mas o que se vê é apenas o que restou. No entanto , Colonia, a cidade mais antiga do país, é a que melhor conserva os seus monumentos históricos, alguns em pé desde o século XVII. Actualmente,  faz parte do  Património Histórico da Humanidade. 
A península de San Gabriel, sobre a qual se elevou a cidade, era um ponto estratégico já que desde ali se podia  exercer o controle sobre as entradas dos Rios Uruguay e Paraná. Portugal queria um porto para facilitar o comércio na região e estabelecer um ponto estratégico para fins bélicos, contra a Espanha. A mando da coroa portuguesa, a frota de Manuel Lobo, Governador de Rio de Janeiro, partiu no fim de 1679 e alcançou a bacia do Prata em Janeiro do ano seguinte. No dia 22 de Janeiro de 1680, os portugueses ancoraram e fundaram Colónia do Santíssimo Sacramento, mesmo em frente a Buenos Aires ,na margem oposta do rio. Foi a primeira colónia portuguesa da região, que deu à cidade um caráter singular entre as cidades de Río de la Plata, tanto no seu desenho como na  sua arquitetura.
A conquista portuguesa não durou muito tempo. Na madrugada do dia 7 para o dia 8 de Agosto do mesmo ano, tropas espanholas e indígenas invadiram, destruíram e tomaram a cidade. Após negociações, a posse de Colonia foi devolvida a Portugal pelo Tratado Provisional de Lisboa (7 de Maio de 1681). Portugal não poderia, no entanto, construir novas fortalezas e edifícios de pedra, que caracterizariam ocupação permanente. Em 1683, os lusitanos voltaram para Colónia. Houve então um período de grande reconstrução e mobilização de esforços para o povoamento e desenvolvimento da cidade. Até 1705, quando a Espanha voltou a atacar – e vencer. A cidade permaneceu desocupada durante 10 anos. Portugal só retornou Colónia em 1715, sob novo tratado diplomático, o Tratado de Utrecht, de 6 de Fevereiro de 1715. Ele previa que os portugueses não teriam permissão de ampliar os limites da cidade além do alcance de um tiro de canhão disparado dos muros da fortaleza.
Mais um período de reconstrução em Colónia: 1715 a 1735. Nessa época, a cidade se transformou em grande exportadora de couros, suprindo toda a demanda de Lisboa. E provocou novamente o desejo da Espanha, que voltou à carga em Outubro de 1735. Os espanhóis cercaram a cidade e batalharam durante dois anos, até que um armistício foi assinado. O sítio a Colónia foi tão intenso, que boa parte da cidade ficou destruída. Por isso, os portugueses optaram pela demolição e reconstrução completa da cidade. O trabalho mal havia terminado, em 1777, quando os espanhóis, liderados por Pedro Ceballos, invadiram novamente. Todas as fortificações e grande parte das construções foram destruídas.
Colonia del Sacramento voltou ao domínio de Portugal em 1817, com a incorporação de Cisplatina, (região que actualmente corresponde ao Uruguai), ordenada por D. João VI. Após a independência do Brasil, em 1822, o Uruguai (e consequentemente Colonia) passou a fazer parte do novo país - o Brasil. Seis anos depois, a República Oriental do Uruguai também ganhou a independência (e aí cessou a troca de governo e comando de Colonia)."

1 comentário:

  1. Os espanhóis. Sempre esses f. da mãe !!! Mas honra nos seja feita , sempre nos livrámos das suas " GARRAS ".

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