terça-feira, 19 de maio de 2020

Toada Índica

Lourenço Marques, Moçambique
Lourenço Marques, Moçambique
Lourenço Marques, Moçambique
Praias de Lourenço Marques, Moçambique

TOADA ÍNDICA
(Apontamento biográfico
em versos de sete sílabas)

Em tempos de antigamente,
quando andava no liceu,
numa terra que era quente,
com um mar que era meu,
ali sendo o paraíso,
de pouco fazendo tudo,
muito não sendo preciso,
buscando prazer no estudo,
estudando-me já eu,
a descobrir os mistérios
do sexo no apogeu
e dos dramas do império,
nesses tempos, eu dizia,
em que tudo era grande
e o amor descobria
que a vida se expande,
nesses tempos de começo
de um mundo que se abria,
de viagens sem regresso,
num tempo em que já sabia
que a dor também existe
e que o triunfo se paga,
mesmo quando se não desiste,
pelo preço de uma chaga
que o tempo não amacia;
naquele tempo enriquecido
por tudo que acontecia
e era por mim sentido
ser tesouro amealhado,
- eu sonhava, com fervor,
num futuro apontado
à grandeza e ao amor!
Que sonhar, nessa idade,
mesmo sendo o sonho alto,
não é grande enfermidade
nem dá grande sobressalto!
Foi assim que certo dia,
- havia sol e promessa
e meu coração ardia –
parti, com dor e com pressa,
deixando amores e festas,
a caminho do futuro
que eu pensava sem arestas,
radioso e bem seguro!
Quando se deixa um tesouro,
em busca de outro maior,
trocamos talvez um ouro
por outro muito pior.
E foi assim que parti,
nesse dia de Setembro,
saindo de onde nasci
-ai como disso me lembro!
Foi o futuro o que foi,
cheio do bom e do mau,
pleno de tudo o que dói,
logo que saí da nau.
Nas águas de um novo mar,
comecei nova aventura,
aprendi outro voar
e ganhei grande fartura!
Mas foi no outro oceano,
lá longe, no além mar,
que eu abri todo o pano
e me pus a navegar!
                    15.05.2020
Eugénio Lisboa,
num regresso ao meu passado Índico, a um tempo mítico que nunca mais esquecerei!

Sem comentários:

Enviar um comentário