Lourenço Marques, Moçambique |
Lourenço Marques, Moçambique |
Lourenço Marques, Moçambique |
(Apontamento biográfico
em versos de sete sílabas)
Em tempos de antigamente,
quando andava no liceu,
numa terra que era quente,
com um mar que era meu,
ali sendo o paraíso,
de pouco fazendo tudo,
muito não sendo preciso,
buscando prazer no estudo,
estudando-me já eu,
a descobrir os mistérios
do sexo no apogeu
e dos dramas do império,
nesses tempos, eu dizia,
em que tudo era grande
e o amor descobria
que a vida se expande,
nesses tempos de começo
de um mundo que se abria,
de viagens sem regresso,
num tempo em que já sabia
que a dor também existe
e que o triunfo se paga,
mesmo quando se não desiste,
pelo preço de uma chaga
que o tempo não amacia;
naquele tempo enriquecido
por tudo que acontecia
e era por mim sentido
ser tesouro amealhado,
- eu sonhava, com fervor,
num futuro apontado
à grandeza e ao amor!
Que sonhar, nessa idade,
mesmo sendo o sonho alto,
não é grande enfermidade
nem dá grande sobressalto!
Foi assim que certo dia,
- havia sol e promessa
e meu coração ardia –
parti, com dor e com pressa,
deixando amores e festas,
a caminho do futuro
que eu pensava sem arestas,
radioso e bem seguro!
Quando se deixa um tesouro,
em busca de outro maior,
trocamos talvez um ouro
por outro muito pior.
E foi assim que parti,
nesse dia de Setembro,
saindo de onde nasci
-ai como disso me lembro!
Foi o futuro o que foi,
cheio do bom e do mau,
pleno de tudo o que dói,
logo que saí da nau.
Nas águas de um novo mar,
comecei nova aventura,
aprendi outro voar
e ganhei grande fartura!
Mas foi no outro oceano,
lá longe, no além mar,
que eu abri todo o pano
e me pus a navegar!
15.05.2020
Eugénio Lisboa,
num regresso ao meu passado Índico, a um tempo mítico que nunca mais esquecerei!
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