quinta-feira, 30 de abril de 2020

Sobre uma perda que sofri

Neste tempo de peste, Eugénio Lisboa oferece-nos novos poemas. Um comovente soneto que traduz o talento e a arte deste grande poeta.
SOBRE UMA PERDA QUE SOFRI
(Lembrando, vagamente, um soneto de Camões)

Alma minha gentil que me deixaste
sozinho, neste mundo tão agreste,
ontem, tão doce, porque nele andaste,
hoje, tão árido, porque te perdeste!

Aqueles dias em que tu vivias
lembro com saudade que me tortura:
tanto me davas quanto prometias,
ao meu canto dando tanta doçura!

Hoje, sem ti, já não me quero vivo,
que a lembrança de ti, alma tão pura,
faz de mim, p’ra sempre, amargo cativo.

Vivo sem viver como antes vivia,
usando, mentindo, um porte altivo,
que ilude o sofrer que antes não sofria.
                                              29.04.2020
Eugénio Lisboa,
em momento em que a solidão agudiza a saudade, mesmo que a amizade e solidariedade dos bons amigos de algum modo a mitiguem.  

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