quinta-feira, 9 de abril de 2020

O nada é só o fim de tudo?

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Roma
Em 3.04.2020, publicámos  um soneto inédito  de Eugénio Lisboa , produzido neste tempo de peste. Que é um extraordinário poeta  é uma certeza  literária irrefutável. Com obra poética publicada , Eugénio Lisboa não cessa de nos surpreender com uma fascinante e continuada produção .
Hoje revisitámos as memórias deste   nome maior da literatura  nacional,  o volume V de "Acta est fabula", e deparámo-nos com um belíssimo soneto, num verbete do diário de  uma viagem a Roma.  
Ei-lo:


28/29.3.96, Roma

INTIMATIONS OF MORTALITY

Tudo vai chegando a um fim que não
entendo. O nada é só o fim de tudo?
Os dias que passam são o que são,
mas deixarem de ser deixa-me mudo.

Tento aceitar o que cessa de ser,
procuro ver o não ser que não vejo:
viver e morrer é não perceber,
e não sei sentir que nada desejo.

Se eu entendesse o que é tudo acabar,
se fosse o não ser o mesmo que ser,
se deixar de ser fizesse sentido,

se fosse não ser um só descansar
(forma feliz de o ser não ser),
tudo apenas cansaço interrompido."
Eugénio Lisboa, in " Acta Est Fabula, Memórias -V - Regresso a Portugal (1995-2015)", Editora Opera Omnia, Outubro de 2015, p.66

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