Aumento do número de barreiras em todo
o mundo analisado em livro
"O muro
fronteiriço entre os Estados Unidos e o México é um dos exemplos que o
jornalista Tim Marshall aborda no livro 'A Era dos Muros', que faz uma síntese
sobre estas divisões territoriais que têm aumentado neste século.
Por oposição à "queda" do Muro de Berlim, em
1989, o autor destaca que o mundo vive "uma mentalidade de fortaleza"
devido a vários factores como a migração provocada por guerras, alterações
climáticas ou degradação económica, religião, perseguições étnicas ou controlos efectivo dos regimes totalitários.
Para o jornalista, há uma tendência
para se "ouvir bastante" acerca do muro de Israel, do muro
fronteiriço entre os Estados Unidos e o México e em alguns pontos da Europa
como na Hungria mas "aquilo que as pessoas não se apercebem é que estão a
ser construídos muros fronteiriços um pouco por toda a parte".
De acordo com o levantamento publicado
no livro, pelo menos 65 países, mais de um terço dos Estados-nação do mundo,
construíram barreiras ao longo das fronteiras sendo que metade das que foram
erguidas desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) surgiram entre o ano 2000 e
a actualidade.
No caso da República Popular da China,
o autor destaca não apenas o controlo fronteiriço entre as províncias internas,
as regiões administrativas especiais e os limites terrestres com os países
vizinhos, mas também a grande barreira imposta pelo Estado ao uso da internet.
"Xi Jinping é o primeiro líder
chinês a chegar ao poder completamente ciente do potencial da internet. Desde
que assumiu o cargo em 2013, supervisionou pessoalmente todas as estratégias
cibernéticas da China, internas e externas", refere o autor destacando
também o papel de Lu Wei, que "subiu a pulso" dentro da agência de
notícias Xinhua (Nova China).
"Foi Lu Wei que disse que o seu
país tinha cibergovernança com características chinesas, fazendo ecoar a frase
de Deng Xiao Ping: 'socialismo com características chinesas", escreve
referindo-se ao actual vice-director do Departamento de Publicidade do Partido
Comunista Chinês.
Na Europa, Tim Marshall analisa a
questão das migrações e as novas divisões que surgiram na Hungria, país liderado
pelo nacionalista conservador Viktor Orbán, destacando igualmente a questão
relacionada com a fronteira de Suawalki, no enclave russo de Kaliningrado: uma
faixa de terra com 102 quilómetros de largura em território polaco, que liga o
enclave à Bielorrússia, Estado aliado de Moscovo.
Os militares russos têm permissão para
transitar pela Lituânia, na parte que fica ao lado do corredor, a fim de
abastecerem as bases e na eventualidade de hostilidades, Moscovo pode fechar
facilmente o fosso, cortando assim completamente a ligação entre os Estados
bálticos e o resto dos aliados da NATO.
"A situação é complicada pelo
facto de a área de Suawalki pertencer à Lituânia e persistirem tensões entre a
Polónia e a Lituânia. No entanto, é a ameaça vista na Rússia que explica o
porquê de se estar a tornar uma das áreas fronteiriças mais perigosas e
fortificadas da Europa", considera o autor do livro.
Por outro lado, refere a crise
migratória é o principal motivo para a Europa ter actualmente quase a mesma
extensão de barreiras físicas ao longo de fronteiras nacionais que tinha
durante a Guerra Fria.
O longo capítulo sobre o Reino Unido
analisa a questão do "Brexit" e da possibilidade paradoxal de uma
nova fronteira terrestre entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, abolida
no tratado de paz.
Segundo o autor, aqueles que votaram
no referendo de Junho de 2016 a favor da saída do Reino Unido da União Europeia
são de todos os ramos profissionais, mas muitos, escreve Tim Marshall,
provinham das regiões mais pobres de Inglaterra e do País de Gales,
"antigas zonas da classe trabalhadora, reflectindo a divisão clássica entre
os ricos e os pobres.
"O nosso pior pesadelo será um
futuro em que nos refugiamos nos nossos vários enclaves", acrescenta Tim
Marshall sobre o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte.
O livro analisa a questão fronteiriça
entre o México e os Estados Unidos recordando os aspectos históricos da
fronteira realçando que, até à independência mexicana em 1821 , o Texas era
território espanhol onde se calcula viviam na altura apenas cinco mil cidadãos
norte-americanos.
No Médio Oriente são estudadas as
divisões entre Israel e a Palestina além das fronteiras entre o Iraque e o
Irão, a Arábia Saudita e o Irão; os limites fortificados no subcontinente
indiano, referindo os aspectos que levaram à construção da sofisticada cerca que
divide o Bangladesh e a Birmânia depois da crise do povo rhoyngia.
O Livro 'A Era dos Muros' de Tim
Marshall (Edições Saída de Emergência, 287), inclui mapas e fotografias e foi
editado este mês em Portugal." Lusa, em 22/07/19 11:51
Sobre Tim Marshall
Considerado uma autoridade em Relações Internacionais tem mais de vinte e cinco anos de experiência jornalística. Foi editor de Diplomacia na Sky News, tendo trabalhado anteriormente na BBC.
Como jornalista, esteve presente em mais de quarenta países e cobriu os conflitos na Croácia, Bósnia, Macedónia, Kosovo, Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria e Israel. Escreveu para o The Times, The Guardian, The Independent, Daily Telegraph e The Sunday Times, e o seu blogue Foreign Matters esteve na lista dos escolhidos para o Orwell Prize de 2010. É o fundador e editor de Assuntos Internos do sítio web TheWhatandtheWhy.com.
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