A luta dos acasos
por Baptista-Bastos
"Como disse um grande poeta português: .Que valor profundo possuem as palavras, num mundo em que os atropelos ao ser humano passaram a fazer parte da banalidade? Há qualquer coisa de maligno e de desesperante na indiferença com que se assiste às maiores calamidades que nos assolam? Pode Donald Trump dizer o que diz e fazer o que faz com a impunidade admitida por aqueles que se julgam quê? Sabe-se que as regras com as quais fomos educados se deixaram pulverizar, em nome da obediência insana aos mais fortes. Mas esses que se julgam os tais, acabam por ser derrotados com a indignidade da desonra.
A mundialização obedece ao pressuposto de uma nova cultura? É capaz disso. Mas a cultura universal constitui, até hoje, um paradigma, que nem a sobrecarga da economia, como valor supremo, tem conseguido liquidar. Trump não é um fenómeno isolado: faz parte daquela humanidade obsessivamente disposta a interferir nas questões do humano.
O fenómeno não é novo. Aquando da Comissão de Actividades antiamericanas, com Joseph MacCarthy e Roy Cohn, eles conseguiram fazer com que os Estados Unidos se transformassem numa implacável máquina de destruição. As raízes persistem, como se pode verificar, no renascimento do ódio ao humano. As declarações de Trump são assustadoras, mas as reacções contra são-no, igualmente, poderosas. As sessões produzidas durante os Prémios de Cinema de Hollywood reavivam os princípios fundamentais de que o sonho e a criatividade humanos pertencem a todos, e que Donald Trump não passa de um imbecil episódico, apoiado por outros que tais.
Talvez meta medo e cause momentâneas apreensões. E, acaso, estejamos a ser envolvidos pela perda de valores num mundo flexível e desproporcionado com as nossas esperanças. Mas, como disse um grande poeta português, "pelo sonho é que vamos". E o que nos está a acontecer, podem crer em mim, é, somente, a luta dos acasos disponíveis."
Baptista-Bastos, em Crónica publicada no CM, em 1.03.2017
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