"Quero
escrever sobre a solidão. Quero escrever sobre teu rosto orvalhado de ternura -
e sobre a solidão. Mesmo que, depois, me sinta mais vulnerável.
Mas
é suspeito falar sobre solidão. Não é coisa de gente séria e madura.(...)
Por isso, já que não posso falar de solidão, venho dizer-te que este rio de
Outono é feito de pedaços dispersos: de recifes agrestes e margens
ossudas; do perfil escuro das árvores sem dono. E também de alvoradas e
mansidão azul. Quero ainda dizer-te que, apesar das flores que não deram fruto,
há lá fora dois palmos de terra chã coberta de esperança perfumada de vento.
Por isso espero que hoje, no declinar de mais um dia de ausência, nem
tudo seja cais deserto e abandono."
Fernando Aires, in "Era uma vez o Tempo", Opera Omnia Editora, Outubro 2015, p.101
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