O amor é uma poderosa força antipolítica
“O amor, em virtude de sua paixão, destrói o
‘entre’, esse espaço que nos relaciona com outros e nos separa deles. Enquanto
dura o seu encanto, o único ‘entre’ que pode inserir-se no meio de dois amantes é
a criança, o próprio produto do amor. A criança, esse ‘entre’ com que os
amantes agora estão relacionados e mantêm em comum, é representativa do mundo
onde ela também os separa; é uma indicação de que eles inserirão um novo mundo
no mundo existente. Por meio da criança, é como se os amantes retornassem ao
mundo do qual seu amor os expeliu. Mas essa nova mundanidade, resultado e único
final possíveis de um caso de amor, é, num certo sentido, o final de um amor,
que deve superar novamente os padrões ou ser transformado em outro modo de
estar juntos. O amor por sua natureza não é mundano, e é por isso — não por
raridade — que é não apenas apolítico, mas antipolítico, talvez a mais poderosa
de todas as forças antipolíticas humanas.”
Hannah Arendt, em A Condição Humana, Relógio D'Água Editores
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