Curiosidades
dos Estados Unidos que até os americanos desconhecem
Por José
Cabrita Saraiva
"Sabe
de onde vem a palavra dólar? Por que Henry Ford chamou T ao seu famoso automóvel?
Como eram os primeiros hambúrgueres? O comum dos americanos também não. Mas
Bill Bryson, o mais popular dos eruditos, explica-nos estas e outras
curiosidades em Made in America, que acaba de ser editado em Portugal
pela Bertrand.
Autor,
viajante e antigo jornalista, Bill Bryson é uma figura altamente popular nos
Estados Unidos. Vendeu milhões de livros, detém 11 doutoramentos honoris causa
e até já foi representado no cinema pelo actor Robert Redford. A sua obra mais
conhecida, Breve História de Quase Tudo (ed. Bretrand), propõe uma
viagem pela história do planeta e da ciência - Bryson escreveu-a porque achava
que os manuais escolares deixavam de fora as partes mais interessantes.
Agora, a
Bertrand acaba de publicar em Portugal o seu livro Made in America
(originalmente publicado nos EUA em 1994), onde o autor procura, através da
etimologia das palavras, iluminar aspectos mais ou menos obscuros de diferentes
facetas da sociedade norte-americana - até as aparentemente mais prosaicas ou
insignificantes. Destas páginas divertidas e eruditas, escolhemos dez excertos
do livro de Bryson que formam um caleidoscópio sobre a história e a cultura dos
Estados Unidos.
Dólar - a
moeda da Boémia
«Dollar vem
de joachimstaler, moeda cunhada pela primeira vez na cidade de Joachimstal, na
Boémia, em 1519 e que depois se espalhou pela Europa com o nome de daler,
thaler e táler. No contexto americano, dollar foi registado pela primeira vez
em 1683. Dime, ou disme, como estava escrito nas primeiras moedas, é uma
corruptela do francês dixième, e deveria ser pronunciada ‘díme’, embora, ao que
se julga, quase ninguém o fizesse».
Franklin e a
arte do engate
«A vida de
Franklin é um exemplo de diligência incansável. Inventou uma infinidade de objectos úteis e ajudou a criar o primeiro corpo de bombeiros voluntários dos
Estados Unidos, a primeira companhia de seguros contra incêndios (a
Hand-in-Hand), uma das primeiras bibliotecas de Filadélfia […]. E, no meio de
tudo isto, ainda conseguiu arranjar tempo - mesmo muito tempo - para prosseguir
a sua maior paixão, embora a menos celebrada: to roger (engatar) toda e
qualquer mulher que lhe passasse pela frente».
O primeiro
livro escrito à máquina
«Mark Twain
foi a primeira pessoa a escrever um livro numa máquina de escrever, a
typemachine, como ele insistia em chamar-lhe. Orgulhou-se disso numa nota
autobiográfica, dizendo que tinha sido As Aventuras de Tom Sawyer, mas a
memória traiu-o. Foi A Vida no Mississípi».
Alfabeto
Ford
«Ainda na
primeira metade da década [1910-1920], a América detinha 85 por cento da
produção de carros em todo o mundo […].
Grande parte
do mérito de tudo isto pode ser atribuído a uma única pessoa, Henry Ford, e a
um veículo estranhamente chamado modelo T. Ford usou sempre iniciais para os primeiros
carros, mas de uma maneira decididamente fortuita. Por razões, ao que parece,
que ninguém registou, resolveu desprezar sequências completas do alfabeto. Os
seus primeiros modelos foram o A, B, C, F, K, N, R e o S, antes de finalmente
produzir, no dia 1 de Outubro de 1908, o seu primeiro carro universal, o modelo
T».
O nascimento
do computador
«A palavra
[computador] existe em inglês desde 1646, mas inicialmente era usada apenas na
expressão on who computes (‘aquele que computa’). O nome foi dado em 1872 a um
tipo de máquina de somar e finalmente, em 1940, computer adquiriu o significado
de máquina desenhada para efectuar cálculos electrónicos complicados e intrincados. A primeira destas máquinas a ser assim denominada foi a Eletronic
Numeral Integrator and Computer (ou ENIAC), construída em 1945. […] Nos Estados
Unidos, em 1956, não havia mais de uma dúzia de computadores. […] Mesmo em
1976, ano em que a Apple Computer foi fundada, havia pouco mais de 50 mil
computadores no mundo. Uma década depois, esse era o número de computadores
fabricados diariamente».
O inventor
do centro comercial
«O
responsável pela concepção e design do moderno centro comercial não foi um
americano, mas o vienense Victor Gruen, que chegou à América fugido do
Anschluss [anexação] austríaco em 1938, apenas com oito dólares no bolso. Em
doze anos, tornou-se um dos mais bem-sucedidos arquitectos urbanos dos Estados
Unidos. Ironicamente, a intenção de Gruen não era a criação de um novo e mais
eficiente modo de vender, mas recriar na América a atmosfera relaxada dos cafés
de sociedade existentes nos centros urbanos de muitas sociedades europeias. Os
shopping centers - ou shopping towns, como ele preferia chamar-lhes - seriam
locais onde toda a vizinhança se reuniria, pontos de fuga da comunidade onde as
pessoas pudessem passear e encontrar-se com amigos, tomar um café ou comer um
gelado, e apenas ocasionalmente fazer compras».
As origens
do hambúrguer
«Existem
indícios que apontam para já haver um Hamburg steak na ementa do restaurante
Delmonico’s, em 1836 ou 1837. A primeira aparição incontestada foi registada no
Boston Journal de 16 de Fevereiro de 1884, onde se lê: ‘Pega-se numa galinha e
coze-se. Quando estiver fria, corta-se tal como se faz com a carne para fazer
um Hamburg steak’. Como acontece muitas vezes com as primeiras citações, o
contexto torna que por esta altura o prato já era bem conhecido. Infelizmente,
indica também que era um prato diferente do que conhecemos hoje, que levava
carne cortada em bocados em vez de carne moída, e que era servido frio».
Lóbis e
lobistas
«Também em
Albany [estado de Nova Iorque] surgiu na mesma altura [década de 1820] o termo
muito necessário lobbyist, significando alguém que se passeava no lobby
(‘átrio’) do Capitólio, a tentar meter ‘cunhas’ aos legisladores que iam
passando. (Passeavam-se no lobby porque lhes era proibido entrar nas câmaras
legislativas)».
A bibliotecária que baptizou a estatueta dourada
«Nenhum comentário ao léxico hollywoodiano ficaria completo
sem a menção por passageira que seja, aos Óscares e à maneira como estas famosas
estatuetas douradas obtiveram o seu nome. Poucos termos utilizados em qualquer
área criativa engendraram explicações etimológicas mais variadas. Talvez a mais
plausível de todas seja a que segundo Margaret Herrick, bibliotecária da
Academy of Motion Pictures Arts and Sciences, terá dito quando viu o protótipo:
‘Oh, faz-me lembrar o meu tio Oscar!’».
A frase mal citada que entrou para a História
«De acordo com o historiador Richard Hanser, [o astronauta
Neil] Armstrong ficou espantado e desiludido quando, ao regressar ao seu
planeta de origem, verificou que tinha sido mal citado em todo o lado [nos
títulos dos jornais]. O que tinha dito fora: That’s one smal step for a man,
one giant leap for mankind (‘É um pequeno passo para um homem [ele próprio] e um
passo gigante para a humanidade’). O artigo indefinido [‘um’] perdera-se na
transmissão».José Cabrita Saraiva,Jornal i 07/10/2017
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