Jazz
Soltaram as tripas do jazz na vastidão da praia
contra os muros da terra e as cúpulas do céu.
Mas ninguém pediu ali aquela música,
o seu som poderoso, a rouca brutidão que celebra um parto,
um esgar feito num sopro feroz além da dor.
E tanta areia submissa ficou tonta,
só está habituada às mãos brancas e flácidas
dos seus amanuenses,
ao assoar roufenho das senhoras e donas,
às meninas nuas com o seu bibe de espumas e segredos.
Foi de muito mau gosto
deixar correr livre essa loucura aguda dos metais,
o gorgolejar ébrio dos saxos , a trepidação das ancas,
e tudo à solta, tudo por cima das ondas, só o negro,
o negro, nesta claridade resignada.
Por isso se despedem os mais cordatos corpos que há na tarde.
Cansaram-se os ouvidos , não há misericórdia
para a nostalgia escrava, ninguém já se recorda que existiram
campos de algodão e servos, gordas mulheres dedicadas
em filmes compassivos.
A praia ficou negra , negra e de pé, e parece vazia."
Armando Silva Carvalho, in " A sombra do mar" , Assírio&Alvim Ed., 2015, p.20
A voz incomparável de Louis Armstrong , em St. James Infirmary, do Álbum "Ain't Gonna Give Nobody None of My Jelly Roll", 1964 .
Eu sou dos que gostamE Particularmente deste chamado Cool Jazz.
ResponderEliminarMário César