(...) Cantamos porque o pânico não retardará a primavera
e porque em cada amanhecer as sombras batem em retirada.
Cantamos porque a luz redesenha em cada aurora
e porque as estrelas e porque as rosas.
Cantamos porque nos riachos e lá na fonte as águas cantam
e porque toda essa dor desaguará um dia.
Cantamos porque no trigal o grão amadurece
e porque a seiva cumprirá o seu destino.
(...)
Pelo encanto de cantar e pela esperança nós cantamos
e porque a utopia persiste a despeito da descrença.
Cantamos porque nessa trincheira global, nessa ribalta,
nossa canção viverá para dizer por que cantamos.
Cantamos porque somos os trovadores desse impasse
e porque a poesia tem um pacto com a beleza.
E porque nesse verso ou nalgum lugar deste universo
o nosso sonho floresce deslumbrante.
Curitiba, Maio de 2003
Manoel de Andrade, "Por que cantamos" , in Cantares
A beleza e a intensidade das palavras do poeta são a justa introdução ao momento musical que se segue. Vozes que se juntam para celebrar a música, apesar das insistentes diferenças que segregam o mundo.
Mahsa Vahdat (Irão) e Mighty Sam McClain (USA), em Earth,do Álbum "Scent of Reunion - Love songs across civilizations".
A memória de uma luta transfigurada em poesia.... Cantamos porque existimos!
ResponderEliminarManoel de Andrade, a vida inteira um poema!...
ResponderEliminarVarela Pires..., você voltou!?
ResponderEliminarMeus versos te agradecem e meu coração te abraça. Te saúdo com muita alegria, aqui, nesta cidadela de encanto, onde se editora tantos sabores e nosso espírito degusta os melhores frutos do cotidiano. Aqui onde se celebra, dia a dia, o pensamento e a liberdade e onde a poesia vive e sobrevive, nesse tempo sombrio onde a beleza transita envergonhada.
Manoel de Andrade