"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros;
mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires
penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados
, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados numa única
autotranscendência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua
prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações,
sentimentos, concepções, fantasias--tudo isso são coisas privadas e , a não ser
por meio de símbolos, e indirectamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da
família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares.
[...] Contemplarmo-nos do mesmo modo pelo qual os
outros nos vêem é uma dádiva das mais confortadoras. E não menos importante é o
dom de vermos os outros tal como eles mesmos se encaram. Mas e se esses outros
pertencerem a uma espécie diferente e habitarem um universo inteiramente
estranho? Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que
realmente sente o insano? Ou, na iminência de ser reencarnado na pessoa de um
sonhador, um médium ou um génio musical, como poderíamos algum dia visitar os
mundos que para Blake, Swedenborg ou Johann Sebastian Bach eram seus
lares?"
Aldous Huxley, in As portas da percepção, Ed. Antígona
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