A minha prisão pela PIDE
" Fui julgada em 13.5.1961 e condenada a 5 anos de prisão maior, " medidas de segurança" de internamento, indeterminado, prorrogável de 6 meses a 6 anos. Foi meu advogado de defesa, o dr. Arlindo Vicente. Em 1963 fui posta em "liberdade condicional".
A maior parte do tempo que medeia entre a minha prisão e o julgamento passei-o em regime de " isolamento".
Não vou descrever o que senti durante todo esse tempo e do restante , passado na prisão de Caxias e, a partir do 7.9.62 , no "Hospital da Ordem Terceira", em regime prisional. Não vou descrever as pressões, as torturas e os momentos em que estive em perigo de vida.
Tudo isso eu admitiria, dessa ou de outra forma, antes de ser presa.
Pior que tudo isso é a angústia provocada por acusações falsas. É ser-se condenado, humilhado, moralmente torturado pelos próprios " camaradas", em nome dos ideais por que e para que sempre se viveu. Foi o que senti nessa altura e é o que ainda hoje sinto.
Do tempo em que estive em Caxias guardo a boa recordação da solidariedade e da ajuda fraternal de algumas " amigas" que lá estiveram comigo e muito especialmente , durante o tempo de "isolamento", a solidariedade dos estudantes de Coimbra, presos em 1962 na cela debaixo da minha: os poemas, as canções, o teatro, as conversas (!) e o fim desse fraterno e lindo convívio: a canção " Coimbra, menina e moça".
No dia 11 de Julho de 1963, saí em " liberdade condicional", em consequência de uma campanha para a minha libertação, dada a gravidade do meu estado de saúde."
Cândida Ventura, in O " Socialismo" que eu vivi, Editora Bizâncio, Lisboa, p 65
Cândida Ventura nasceu a 30 de Junho de 1918 , em Lourenço Marques. Faleceu a 16 de Dezembro de 2015, em Portimão.
Passou um ano que nos deixou. Relembrar a mulher notável que soube entregar-se à luta por um mundo melhor, quando Portugal estava amarrado nas malhas da Ditadura, é um dever , uma imposição. Cândida Ventura foi presa e amordaçada, mas soube afrontar o medo para que a Liberdade fosse a voz de todos nós.
Bem haja, Cândida. Com saudade , a saúdo.
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