"E agora não estou tomando tua
mão para mim. Sou eu quem está te dando a mão.
Agora preciso de tua mão, não para que eu não tenha medo, mas para que tu não tenhas medo. Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão. Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor. Como eu, não terás medo de agregar-te à extrema doçura enérgica do Deus. Solidão é ter apenas o destino humano.
Agora preciso de tua mão, não para que eu não tenha medo, mas para que tu não tenhas medo. Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão. Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor. Como eu, não terás medo de agregar-te à extrema doçura enérgica do Deus. Solidão é ter apenas o destino humano.
E solidão é não precisar. Não precisar deixa um homem muito só, todo só. Ah,
precisar não isola a pessoa, a coisa precisa da coisa: basta ver o pinto
andando para ver que seu destino será aquilo que a carência fizer dele, seu
destino é juntar-se como gotas de mercúrio a outras gotas de mercúrio, mesmo
que, como cada gota de mercúrio, ele tenha em si próprio uma existência toda
completa e redonda.
Ah, meu amor, não tenhas medo da carência: ela é o nosso destino maior. O
amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a
própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará
continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que
se chama paixão.»
Clarice
Lispector, in «A Paixão Segundo G.H.», Relógio D'Água, p.136
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