Rubem Alves, em "Onde mora o Amor", do
livro 'Tempus Fugit'. São Paulo: Edições Paulus, 1990.
Nevoeiro
O amor não é
nem paz nem batalha
nem fogo amealhado
na escura fornalha.
O amor é
nevoeiro
a branquidão que esconde
a pedra suspensa
no despenhadeiro.
E sendo
sempre tudo
como o sonho dos mudos
o amor não é nada
diante da
morte
do vento que sopra
de madrugada.
Lêdo Ivo, in "Curral de Peixe", 1995, Ed. TopbooksRenoir |
Julio Cortázar, in "O jogo da
amarelinha" (Rayuela). São Paulo: Abril Cultural, 1985. — v. 1, p. 19
Às
vezes sabes sinto-me farto
por
tudo isto ser sempre assim
Um
dia não muito longe não muito perto
um
dia muito normal um dia quotidiano
um
dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás
no quarto e chamarás por mim
e
digo-te já que tenho pena de não responder
de
não sair do meu ar vagamente absorto
farei
um esforço parece mas nada a fazer
hás-de
dizer que pareço morto
que
disparate dizias tu que houve um surto
não
sabes de quê não muito perto
e
eu sem nada pra te dizer
um
pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não
muito perto desse tal surto
queres
tu ver que hei-de estar morto?
Ruy
Belo, in Homem de Palavra[s], 5.ª edição, introdução de Margarida Braga
Neves, Junho de 1997, Editorial Presença, p. 83.
Nous connaitrons la lune et nous ne connaissons pas l'homme.
Nous connaitrons la lune et nous ne connaissons pas l'homme.
Henry de Montherlant
Há um tempo em que somos desejados. O ar sufoca sem a nossa presença.
Há um tempo em que somos indesejáveis. O ar respira-se com a nossa ausência.
Saber aceitar esta verdade exige tempo. Mas todos os tempos chegam a um tempo. O tempo de vencer ou o tempo de perder.
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo
tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena, in "As evidências,1955,- Poesia I", Edições 70
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo
tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena, in "As evidências,1955,- Poesia I", Edições 70
"Procurar-te-ei. No Mar que te enfrenta, no ar que te sustém, na luz
que te ilumina, na lonjura que te retém.
Procurar-te-ei. No sempre do dia que se faz, na noite que se constrói,
nos momentos que passam , nos segundos que não chegam e nas horas que te
prometo.
Procurar-te-ei. Não sei como e nem sei porquê.
Procurar-te-ei. E se mo disseres, ficarei."
Maria José Soares de Moura, in " Poemas da Terra e do
Mar"
(…)faríamos do sonho e do amor
não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.”
Alberto Costa e Silva ( poeta brasileiro)não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.”
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