Nascer é um exercício de destreza. Não sei bem quem se comprime
mais : a mãe ou o filho? O que sei é que não foi fácil. Mas , no meio de alguns gritos, como gostei de ver o rosto da mãe.
Tinha olhos bonitos e sorria-me. E não é que o sono chegou e lá me entregaram, lavadinho, bem cheiroso, aos lençóis de um berço daquela Maternidade hospitalar, no Sul de Portugal.
Onde
estaria o pai? Tinha escutado que ele
vinha de longe, de muito longe . Ainda em trabalho de parto , alguém dissera
que chegaria mais tarde porque o avião vinha com atraso. O pai tinha uma voz
melodiosa, doce. Quando estávamos em casa, antes de termos vindo para Portugal,
por causa do meu nascimento, ele falava de mim ao meu irmão. Dizia-lhe que estava
feliz e que comigo seria diferente. Teria
alguém que se tornaria inseparável: um irmão, um amigo para sempre . Não
entendia bem o que ele queria dizer. Apenas o ouvia com algum tremor dentro de
mim. Creio que era o meu coração a respirar.
E
agora, que já cá estou, descubro que cresci. Que passaram nove anos desde
aquele dia 14 de Novembro de 2006. E como o pai tinha razão. O meu irmão
Ricardo é o meu grande companheiro. Mima-me e ralha sempre que pode. Mas gosta
de mim como um grande irmão. E o pai continua com aquela voz assertiva em
doçura e atenção. É o melhor pai do mundo. E não é que é o meu!
Miguel
Vieira de Sousa, Novembro de 2015
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