PARAÍSO
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal ou a Arte de Amar" (1962). Guimarães Editores
Nem sempre somos nós a procurar a Música. Apresenta-se, por vezes, em traje de evidente sedução e de plena ousadia, numa perseguição que nos enreda e nos submete ao seu jugo. E surgem os sons que nos transportam para galáxias de paraísos insondáveis ou as vozes que se insinuam, com tal intensidade, que nos afundam, em longínquos oceanos de mares transparentes e de profundas águas cristalinas. Mergulhamos sem que a possamos repelir, tal é a força e o encanto da melodia e da sonoridade que a enforma.
Tudo isso nos traz June Tabor. Uma voz de um timbre singular que sempre nos surpreende, em qualquer registo.
June Tabor, em As I Roved On, do Álbum On Air, 1998.
June Tabor, em Shipbuilding, do Álbum Ashore (2011, Topic Records Ltd.). Canção composta por Elvis Costello.
June Tabor, em Where are you tonight , do Álbum Aqaba,(1988), uma canção de Andy M Stewart.
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