"A faculdade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus sentimentos e pensamentos é que melhor revela o seu poder de carácter (...). Se a nossa alma, em seu trabalho de exteriorização verbal, se condensou em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonicamente originais, também nas obras dos nossos escritores e artistas autênticos se nota uma instintiva compreensão da vida, em perfeito acordo com o génio da língua portuguesa.(...)
A linguagem é obra da natureza e do homem.
As coisas falam à nossa sensibilidade que converte a impressão recebida numa forma de som articulado; isto é, «nomeia» a coisa que a feriu.
O nome de uma coisa (principalmente das coisas vivas e naturais) é, por assim dizer, ela mesma em espírito verbal.
(...)E
se as coisas nos falam, também nos falam os nossos sentimentos, para serem
nomeados e adquirirem expressão vivente. (...) De um modo geral e vago, assim
se criaram as palavras, verdadeiros seres, que, de organismos rudimentares,
interjeccionais, se foram aperfeiçoando, pelas leis que presidem ao
desenvolvimento das outras criaturas. "Teixeira Pascoaes, In Arte
de Ser Português (1915), Lisboa, Delraux, 1978, pp. 25-27
Pedro
Moutinho e Mayra Andrade, em “Alfama” de José Carlos Ary dos Santos e Alain
Oulman, fado que foi imortalizado por Amália Rodrigues. Pedro Moutinho ,
fadista da nova geração, dá-lhe o tom de quem sempre viveu com o fado, de quem o respira e sente intensamente. Mayra Andrade, jovem e notável cantora de Cabo Verde, desfia-o sem pretensões de fadista. Deixa-se ir , impregnando-o com a bela
musicalidade da sua graciosa e peculiar voz rouca.
A lusofonia é também esta capacidade de partilhar e cantar Lisboa num lindo poema em português e em magnífica aposta vencedora.
A lusofonia é também esta capacidade de partilhar e cantar Lisboa num lindo poema em português e em magnífica aposta vencedora.
Alfama
Quando Lisboa anoitece
como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece
Quando Lisboa anoitece
como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece
É numa água-furtada
No espaço roubado à mágoa
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes de água
Quatro paredes de pranto
Quatro muros de ansiedade
Que à noite fazem o canto
Que se acende na cidade
Fechada em seu desencanto
Alfama cheira a saudade
Alfama não cheira a fado
Cheira a povo, a solidão,
Cheira a silêncio magoado
Sabe a tristeza com pão
Alfama não cheira a fado
Mas não tem outra canção
Ary
dos Santos/Alain Oulman
Sem comentários:
Enviar um comentário